quinta-feira, agosto 04, 2016

Chuva de Verão



Caetano Veloso imortalizou este poema com a sua música. Ainda se lembram?

Podemos ser amigos simplesmente
Coisas do amor nunca mais
Amores do passado, no presente
Repetem velhos temas tão banais
Ressentimentos passam com o vento
São coisas de momento
São chuvas de verão...

Pois hoje está assim. Dia para a melancolia e para alguns de nós se perderem outra vez na conhecida "Memory Lane".

Por entre os temas passados que me vieram à memória recordo com saudade  um episódio passado nos meus primeiros dias nos correios.  Pedindo desculpa aos colegas que "entraram na comédia", alguns dos quais já cá não estão connosco neste mundo.

O director de então tinha introduzido nos serviços da chamada Direcção Comercial (que nesse tempo não se limitava à  filatelia, tinha tudo o que era produto de correio) a grande inovação da máquina de calcular eléctrica.

Não sei se se recordam, mas nos anos 70 do século passado (e antes) havia umas maquinetas mecânicas de manivela (para trás diminuíam, para a frente somavam) que eram utilizadas para o mesmo fim.

O nosso chefe de contabilidade - o Sr. Magalhães - era homem antigo do correio antigo. Proficientíssimo na máquina "da manivela", exímio na soma com lápis e papel, mas desconfiadíssimo da "electricidade".

Nessa altura só saíamos da Casal Ribeiro quando já não havia trabalho. Devo recordar que éramos quatro gestores de produto que  fazíamos todo o processo comercial dos CTT: Cartas, registos, correio publicitário,   encomendas e serviços financeiros. Estava tudo  a nosso cargo. No meu caso eram os chamados "finos", as cartas, os postais, os registos,  etc..

Não existiam computadores. Os relatórios e memorandos eram escritos à mão e depois passados à máquina numa "poole" de dactilógrafas que era comum aos quatro.

Pois num desses dias, já mais para a noite do que para o final da tarde, desci à contabilidade onde reparei que o Sr. Magalhães ainda trabalhava, com os seus "manguitos" enfiados para proteção da camisa, aparentemente a fazer contas de cabeça com o seu lápis de estimação, tendo à frente a fita impressa da máquina eléctrica.

Questionado sobre o porquê da operação a horas tão tardias,o notável funcionário logo me disse:

-" Eu cá desconfio desta coisa das máquinas eléctricas! Quando acabo o trabalho fico aqui mais um bocado a refazer as contas todas à mão,  para ver se a "gaja" se enganou!"

Bons Tempos!

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