quinta-feira, março 20, 2014

A Prima

Chegou a Primavera. Veio tímida e demasiado recatada para o meu gosto. Depois de um Inverno de água (ainda bem) esperava-se uma Primavera mais meiga e ensolarada.

Mas como deixei de tentar compreender o clima nestes tempos de cataclismos planetários - El Niño; Aquecimento Global; Efeito de Estufa... - nem sequer me vou preocupar a prever o tempo que fará amanhã.

Quando acordar abro a janela e logo se vê. Isto se se vir alguma coisa, porque como eu acordo com as galinhas, na maior parte das vezes não vejo nada. Nem a ponta do meu nariz.

Poeticamente - e estamos a aproximarnos do Dia Mundial da Poesia , a 21 de Março, já amanhã! - a Primavera sempre foi uma dádiva dos deuses.

Muito poeta,  versejador,  compositor,  escritor ou simples gatafunhador, se inspirou na dita Prima.

Tenho até algumas  suspeitas se o velho Escriba Sentado (cerca de 2550 A.C.) não se teria ele mesmo já inspirado na Primavera lá de Saqqara... Pelo menos a cara dele é a de quem apanhou alguma alergia aos pólens...

Claro que a Primavera no Egipto tem hoje em dia outras conotações... Ali e noutros lados.

Espera-se até ansiosamente que a mesma chegue ao Norte, lá para a Crimeia.

Mas com as tais movimentações do estado do tempo a que atrás me referi, a Primavera é capaz de se atrasar um bocado a chegar a esses locais. Para aí uns anitos...

A não ser que o Czar o ordene, está claro! Era o que faltava o Czar convocar a Prima e ela não aparecer!

 Imaginem o Putin a espirrar com febre dos fenos... Iam logo para a Sibéria contar pêlos de mamute congelado todas as Primas que se encontrassem disponíveis.

Um comentário:

Américo Oliveira disse...

Fernando Pessoa versejava com a vinda da Prima e dizia que quando ela chegasse "o que for, quando for, é que será o que é":

QUANDO VIER A PRIMAVERA

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.