segunda-feira, fevereiro 03, 2014

A especialização passou de moda. Viva a generalização do "saber"!

O universo "bloguista" tem coisas engraçadas. Entre elas, passa hoje por ser o universo dos especialistas nas generalidades! Daqueles que opinam sobre tudo o que mexe. Seja cão, ave, lagarto ou alcabroz!  Será o triunfo  das criaturas que falam de tudo e sobre tudo dão palpites.

Mas é engraçado verificar que nos MCS mainstream também  muita gente parece "saber" de quase tudo - mania talvez começada pelo Dr. Nuno Rogeiro, que descorria sobre política nacional e internacional, balística e estratégia militar, intérpretes musicais e novos discos chegados ao mercado, filmes e livros, restaurantes e vinhos.

Nesta continuidade de raciocínio dei por mim a ler nos jornais de referência vários impetrantes a falar de comidas e bebidas sem que para tal exibissem outras credenciais a não ser aquelas que o comum dos mortais também ostenta: comem e bebem.

Alguns - como o sempre amigo Miguel Esteves Cardoso - têm graça. Embora a cultura anglo-saxónica  das suas origens o traia, como na edição da Fugas deste sábado, onde, aqui em Portugal, aconselhava uma receita para comer salmão... E  do mal o menos , que poderia ser carpa...

Meu mestre Quitério e o David de boníssima e saudosa memória, passavam a vida a ler e a estudar. A provar e a discutir as práticas com os melhores cozinheiros. Dissecavam as receitas, procuravam as incongruências, iam atrás na história para encontrar antecedentes, etc, etc... E a Dona Maria de Lourdes Modesto fazia  o mesmo , todos os dias. Porventura numa vertente mais prática , em frente aos fogões.

Depois de conviver com a Fátima Moura e de ler os livros do Fortunato da Câmara  entendo que esta nova geração de estudiosos do tema está muito bem lançada.  Obviamente que também na vereda do honesto estudo e do trabalho árduo.  Deixem-nos brilhar e dêm-lhes tempo e dinheiro (invistam neles!) para todos ganharmos com isso.

Agora, diletantes - onde me incluo - a dar bocas sobre estas coisas tão sérias só se admitem na óptica do "utilizador", daquela criatura que, de guardanapo entalado (ou não) e de talheres na mão, dirá depois de provar o que achou da festança. E aqui, no veredicto da prova gustativa, olfativa e estética, entendo também que é quem paga e é "o" cliente que pode e deve falar.

Feitas estas contas iniciais  e dado que o Homem é por sua natureza volátil , incerto, inconstante e volúvel, não me irei embora sem deixar aqui ficar mais uma receita do meu cardápio.

Não lhe chamarei "Tabuleiro de Carne à Preguiçoso" porque era um plágio descarado do MEC. Mas aqui fica o "Tabuleiro de Carne à Minha Moda".

E com muita sorte estão por hoje não me pôr aqui a falar também da Síria e das últimas sondagens para as Europeias aqui em Portugal (ficam para amanhã).

Tabuleiro de Cachaço de Porco no forno

Para 4 Pessoas: 1,8  kg de cachaço de porco, 2 alheiras de Vinhais, 12 batatas médias cortadas em cubos, cebola, louro,  salsa, alho, sal e massa de pimentão q.b. Um copo de Vinho branco e dois bons golpes de Azeite. Pimenta preta moída na altura ou malagueta ( a gosto)

Peçam no talho 1,8 kg de cachaço cortado como se fosse para rojões. Temperem de véspera com alho, massa de pimentão, salsa, vinho branco  e louro. Não deitem sal de véspera  que secam a carne.

Num fundo de um tabuleiro de ir ao forno coloquem azeite do melhor e por cima desfaçam o interior de duas alheiras de boa qualidade, em crú, às quais tiraram a pele.  Depois ponham uma cebola e meia  picada fina, uma mão cheia de sal marinho e alho também picado. Com uma colher de pau misturem bem  tudo.

Deitem as batatas cortadas  e os  bocados  do cachaço com todo o tempero  da véspera e voltem a misturar bem com o que está no  fundo do tabuleiro. Depois de tudo bem misturado em crú deitem pimenta preta (ou malagueta) a gosto, moída na altura , e mais um bom golpe de azeite por cima.

Vai ao forno quente por cerca de 2 horas, tendo o cuidado de ir virando as batatas com um garfo  grande, para que o conteúdo asse de forma uniforme e fique bem louro por cima.

Logo antes de ir para a mesa polvilhem com  salsa cortada.

Podem acompanhar com um tinto novo e vigoroso, com taninos ainda bem evidentes. Porque não um Bairrada Quinta da Dona 2009? 



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