Entra Agosto com "morrinha" , aquela tristeza melancólica , aparentemente causada pela chuva miúda que não pára de cair em Lisboa e Cascais desde a madrugada. 
Talvez também pelos anúncios que todas as noites fazem as aberturas dos telejornais sobre "o que mais por aí virá", desde a liberalização, e os aumentos previstos no Gaz e na Electricidade, até às explicações atabalhoadas de um Secretário de Estado sobre as novas regras dos despedimentos, que, pensando-se que seriam apenas para  as novas contratações, afinal já parece que serão para todos... A culpa será da necessidade de se atingir a tão importante "convergência" entre as situações novas e as antigas....
É esta uma "convergência" de sinal único, para as coisas negativas, uma convergência da desgraça e do desânimo. Pois não se fala da convergência dos níveis salariais entre Portugal e os outros países europeus, ou da convergência na protecção social na velhice e na doença prolongada entre Portugal e o que existe no Norte do velho continente.
Por estes motivos aqui vai poema também ele afectado pela "morrinha" traiçoeira deste Verão enganador. 
Mas com uma pontinha de esperança ao fim,  saída da voz e da alma do imortal Vergílio Ferreira: Ao longe e ao alto é que estou ; e só daí é que sou. 
Cai a Chuva Abandonada 
Cai a chuva abandonada 
à minha melancolia, 
a melancolia do nada 
que é tudo o que em nós se cria. 
Memória estranha de outrora 
não a sei e está presente. 
Em mim por si se demora 
e nada em mim a consente 
do que me fala à razão. 
Mas a razão é limite 
do que tem ocasião 
de negar o que me fite 
de onde é a minha mansão 
que é mansão no sem-limite. 
Ao longe e ao alto é que estou 
e só daí é que sou. 
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'
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