segunda-feira, setembro 20, 2010

A Economia Nacional afecta os Morfes?

Num Blog mais dedicado aos comes e bebes, falar de Economia pode ser suficiente para que toda a gente habitual e fiel leitora destas linhas passe adiante... Não o façam ainda sff, porque as duas coisas estão ligadas... E muito.

Sem uns dinheiros para gastar lá se vão comes e bebes, seja em casa ou seja lá fora. E quando todos os que, como nós,  ainda alimentam a maioria dos negócios da restauração começarem a olhar para as carteiras antes de entrar, mal estaremos...Ou mal estamos já...

Falando com os proprietários dos Restaurantes já se observam as tendências da crise: digestivos praticamente deixaram de se vender (em média, está claro, estamos a falar de tendências!) e quanto aos vinhos, a "moda" agora é pedir licença para trazer de casa  a garrafita, ou então pedir ...água.

Naquelas casas que ( e muito bem!) permitem fumos à mesa, ainda é possível ver essas criaturas a namorar o havano com um whisky...Mas em vez de pedirem os Glenmorangies ou Lagavullins ou MacCallans que antigamente faziam a alegria das caixas registadoras, pedem agora um "whiisky novo com muito gelo e água"...

Tenho algumas dezenas de contas de almoços e jantares  arquivadas, como podem adivinhar.  Com algumas na mão, proponho-vos  o exercício que consiste em saber quanto valem os "alcoóis" na última linha do recibo.

 Numa conta típica de um bom restaurante em Évora (A Tasquinha) , falando de uma refeição para 3 pessoas e sem meter peixe ao Kg ,  em 157 euros de conta, os vinhos , digestivos e aperitivos (que foram cerveja)  contaram com 87 euros. Mais de 50%. 55,4% para ser exacto.

Noutra conta de um outro bom restaurante, desta vez em Cascais,  de 192,70 euros, também para 3 pessoas, mas com um Robalo ao Sal, os mesmos "líquidos" representaram  70 euros , portanto 36%.
E para terminar, uma refeição de Província, em Vila Real de  Trás-os-Montes. Aqui duas pessoas almoçaram por 61 euros, com vinhos e etc responsáveis por 16,60 euros, 27%,.

Há obviamente diferenças nos preços: Um "Herdade das Servas Touriga" de 2003 pode custar 30 euros num local (no Alentejo é mais caro!) e 25 euros noutro (no Galito em Lisboa). Um Lagavullin custa tanto como 15 euros, no Oliveira, mas já  o paguei a  12 euros em Cascais.... Um Whisky velho (Black Label) pode custar num sítio 12 euros, noutro apenas 7 euros... Se estamos em Vila Real e pedimos uma aguardente de vinho verde bagaceira, pode custar 1 euro  (e que maravilha!) . Mas se a pedirmos em Lisboa e nos trouxerem a Alvarinho do Palácio da Brejoeira (também ela espectacular) , pagaremos 12 vezes mais... Não é a mesma coisa! Dirão e bem. Pois sim, mas quanto á satisfação do paladar do Cliente pouco se afastam.

Quando os vinhos são "topo de gama" a influência dos mesmos nas contas é desmesurada... com vinhos a passarem alegremente a barreira dos 100 euros por garrafa na carta ( Alguns do Douro, Pera Manca ...) apenas "novos ricos" se podem dar ao luxo de os mandar abrir quando estão sentadas à mesa 6 ou 7 pessoas...

Mesmo quando nos decidimos por coisas mais em conta mas também elas muito boas - os Pelladas de Álvaro de Castro (60 euros?) , Murganheira espumante Vintage (45 euros);  Quinta do Crasto Vinhas Velhas (40 euros ou mais) , ou mesmo um Branco Redoma (cerca de 30 euros) - os efeitos na "soma" são imediatos e visíveis...

Há que partir para vinhos menos elaborados, novos (embora a idade cada vez menos seja uma variável influenciadora do preço) . Alguns exemplos: Quinta da Mata Fidalga verde branco a 12 euros; Branco do Soutinho a 6 euros (muito difícil de encontrar a Sul); Lisa (Branco de Palmela) a 12 euros;  Alvarinho Soalheiro a 18 euros; Álvaro de Castro Reserva Tinto de 2004 a 27,5 euros; Herdade de S. Miguel Tinto de 2008 a 13 euros; Monte Mayor de 2007 a 14 euros... e por aí.

Com estes cuidados novos e redobrados, o volume das contas dos restaurantes desce.  Há gente - e tenho que dizer que neles me incluo - que preferem beber o bom e o muito bom cada vez mais em casa ( sua ou de amigos) do que gastarem "garrafões" de euros a pagar essas mesmas garrafitas nalgum bom restaurante...

Obviamente que quem sofre com tudo isto é o Restaurador. Mas também o Cliente que se priva de "casar" como bem entende a refeição com o vinho.

Daí eu ser um dos apologistas desta nova tendência que consiste em levar bons vinhos para o Restaurante. Pagando o serviço de vinhos, está claro!

Agora, não me digam que esse serviço vale 20 euros por garrafa como já li!!  Assim lá vão outra vez matar a galinha!

Entre os 5 e os 10 euros (consoante a categoria do restaurante)  e já gozam (eles e nós)...

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