domingo, agosto 01, 2010

Crónicas da Serra 1: O Vinho do Poço

Neste Verão quente  as temperaturas aqui no Maciço Central não baixam dos 39-40 graus ao início da tarde, sempre com o perigo dos fogos no horizonte próximo a atroar-nos os ouvidos, ou não estivesse situado entre Seia e Gouveia o Aeródromo que serve os CanadAir e os Helis de socorro...

Nem na aparente frescura da sombra do terraço coberto se pode ainda estar a essas horas. Só mais lá para as 7 da tarde.

Na falta de piscina encontra-se refrigério liquído em vários duches de água fria por dia , e, obviamente - ou não fosse esta uma aldeia típica da Estrela - em visitas à Adega cavada entre as rochas das fundações da casa.

O Vinho (branco e tinto) -  naqueles dias onde arcas frigoríficas ainda não se utilizavam e o garrafão não cabia nos pobres frigoríficos -  costumava ser nestas alturas do ano suspenso por uma corda e deitado ao Poço, onde a mais baixa temperatura da água o mantinha por várias horas em condições dignas de ser bebido.

O problema era a logística da coisa: dois ou três garrafões, baraço de corda , e a malta em condições de ainda saber fazer um nó a preceito, não fosse o garrafão soltar-se (grande desastre!!)

Casos se deram de preciosos garrafões terem ido fazer companhia às salamandras do fundo do poço, logo seguidos pelo impetrante autor do nó defeituoso (não sei bem se de vontade se "empurrado" pelos outros companheiros).

Algumas vezes - poucas - acabou tudo com os Bombeiros de Seia a fazerem também a sua entrada no teatro da acção, na impossibilidade dos amadores compadres  fazerem  subir a pulso e sem corda forte o desgraçado do "mergulhador" improvisado agarrado ao seu garrafão precioso. E nunca o largava, com fundados receios que os outros, se se apanhassem com o conteúdo liquído ambicionado, nunca mais se lembrassem de o puxar do Poço!

Ontem , para o Jantar, fizémos uma escabechada de chicharros trazidos de Cascais para o efeito,

Salgados e bem  fritos primeiro, secos em papel manteiga, depois a puxada de muita cebola, alho, azeite, vinagre, louro, 3 colheres de tomatada  e 1 apenas de massa de pimentão (ambas  feitas cá em casa). Junta-se tudo, cobre-se com papel de alumínio ou "filme" de culinária e ...frigorífico (ia escrevendo Poço...).

Com 6 horas de frio já se comiam bem, Mas hoje é que devem estar divinos. Com o nosso Branco de 2009, a uns 8 grauzitos e sem Poço desta vez.

Um comentário:

Vi Vências disse...

Só para relembrar.
"O seu fervor culinário, peço desculpa, ou não só isso, também a informação local, retiram-lhe alguns complementos do que é hoje Seia.
Algum dia visitou o CISE, o Museu do Brinquedo, estão aí pertinho de si, visite e vai ver que são encantadores."