terça-feira, dezembro 20, 2005

Como ajudar a transformar o Perú (ou similar) em algo comestível

Já aqui disse o que era um Perú. Ave de tenra carne (sobretudo as peruas novinhas. Atenção que não há aqui segundas intenções!!) que vivia em tratamento ambulatório nas planícies e que comia frutos, couves, milho, etc...

Essa ave, excepto para alguns priveligiados, acabou.

Conto uma história curiosa:

Tinha casado há muito pouco tempo e ia passar o Natal, pela primeira vez, à quinta dos meus sogros na Beira Alta. A minha sogra criava perús, patos, galinhas e porcos (com vossa licença) lá na quinta e complementava-lhes a dieta de milho produzido na quinta com alfaces (no verão) e couves (no Inverno) . Matou-se a perua escolhida para o Natal de véspera, depois de a terem embebedado com boa bagaceira, depenou-se e deitou-se num alguidar de barro, com água, vinho branco , rodelas de laranja e de limão.

Antes de me deitar passei pela cozinha e fiquei assustado com o que vi. Subi para o quarto e falei com a minha mulher:"Oh Natália, não sei o que havemos de dizer à tua Mãe. Tanto trabalho com a perua e o animal estava doente...
- "Doente?!"
- "Sim. Está toda amarela , deve ser icterícia..."

Imaginem a risada que foi à conta do Alarve de Cascais que só tinha visto perus no supermercado, brancos como a neve depois de mortos e depenados!

Agora voltando ao tema, como se disfarça um Perú de aviário em algo agradável ao palato?

Comçamos a pensar no assunto, no mínimo, 48 horas antes da refeição.

O Banho de imersão de 24h, em água, rodelas de laranja e de limão é obrigatório. Antes disso, e em vez de misturar vinho branco na água, lavo muito bem o Perú com o vinho.

A seguir esfrego-o todo com "massa de pimentão" e com "massa de alho" (preparado com sal e alho amassados em conjunto). A "massa de alho" já se compra em qualquer super mercado sem problema. A "massa de Pimentão" é que é mais difícil de arranjar, pois na grande maioria as comerciais não têm qualidade. Tentem nalguma boa mercearia ou charcutaria. Eu utilizo a que compro no El Corte Inglês, mas quando vou ao Alentejo ou à Beira tento comprá-la nos mercados locais.

Fica assim mais 24h.

No dia do Almoço acendemos o forno nos 210º logo às 7.00H. Meia hora depois mete-se o Perú. Costumo colocar algumas nozes da melhor banha possível em cima da ave, bem assim como duas ou três malaguetas vermelhas.

Nota sobre a Banha: há quem utilize margarina. Desde que fui convidado para visitar a fábrica de margarinas da Lever fiquei-lhes com um enjoo tão grande que nunca mais a pude utilizar. Banha, Azeite ou Manteiga é o que recomendo. Mas a banha, para o caso vertente de um animal de aviário, tem mais sabor...

Quando há recheio - picado mandado fazer no talho com um chouriço de carne, 150g de vitela, 150g de porco, temperados com sal e pimenta, a que se juntam dois pães embebidos em leite - introduz-se no bucho do Perú nessa altura.

Quando não há (o que prefiro) enfio um Limão partido ao meio e muito bem lavado nos "interiores" do animal.

Rego o perú com bom vinho da Madeira.

Em princípio e por causa da "massa de alho" não precisa de mais sal. Mas vão provando o molho...

Vamos virando o Perú e regando sempre com o Madeira. Demora cerca de 5 horas a assar, para uma ave de perto de 5 Kg. Espeta-se um palito para termos a certeza. Quando sair seco está assado.

Antes de servir abre-se a janela da cozinha e deixa-se o Perú "a constipar" alguns minutos. Serve esta operação para estalar a pele.

E pronto, lá se consegue disfarçar a coisa...

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