quinta-feira, dezembro 14, 2017

O optimista e o "outro"


O nosso Primeiro Ministro achou ontem em Bruxelas que 2017 foi um ano "saboroso". Estávamos livres das condições da Troika (bem, melhor dito, "de quase todas") ; tínhamos um português na presidência do Euro-grupo, o qual não confundiria a "malta" do Sul com ébrios mulherengos, as condições económicas melhoraram face a 2016, os juros da dívida baixam, etc...

Nada destas coisas será mentira.

O que ficou para dizer foram as outras coisas que o ano também nos trouxe, algumas delas bem mais complicadas: os incêndios e  a morte de quase 100 pessoas, a doença legionella, as demissões no Governo, o sarilho na Auto-Europa...

Há quem olhe para as calamidades e veja oportunidades de futuro. Há quem olhe para os mesmos acontecimentos e veja apenas trevas e destruição.  Um comerciante de sapatos chegado a África no dealbar do século XX via apenas grande oportunidade de negócio pela quantidade de malta que andava descalça, outro do mesmo ofício veio-se embora na semana seguinte, explicando que os sapatos ali não se venderiam.

Quem teria razão? Basta espreitar hoje para os documentários sobre África  e ter o cuidado de olhar para os pés dos cidadãos. Porventura teriam ambos razão, embora em distintos segmentos de mercado.

O Dr. António Costa é um Optimista militante. Olha para o futuro na crença firme que este será melhor do que o passado. E, olhando para trás, no passado recente releva apenas os acontecimentos cor-de-rosa.

Sei bem como são estas pessoas. Eu próprio me acuso de ser um  pouco assim.

A grande vantagem desta visão do mundo é a de acrescentar anos de vida ao impetrante. Sem cuidados nem preocupações manda-se o stress para as urtigas.

A maior desvantagem, sobretudo assinalada em casos extremos deste optimismo, é a do sonhador se afastar de tal forma da realidade que em vez de comprar um barco de borracha para fazer face às inundações, trata mas é de  comprar uma cana de pesca e uns anzóis, convencido que o peixe virá ali ter com ele a casa.

Precaução na antecipação ao perigo ou remediar alegremente depois do acontecimento?

São duas estratégias distintas.  E francamente não consigo decidir sobre qual será a melhor em todas as ocasiões. Pois a precaução quando é de mais também retira a alegria do mundo. Todos sabemos a história daquele cidadão que tantos cuidados tomava consigo (não bebia, não fumava, só comia o recomendado, fazia exercício regularmente, ia ao médico de três em três meses) que morreu  cheio de saúde.

A poupança sem objectivo maltrata o corpo e apenas apazigua a consciência. A dissipação sem controlo põe em causa o dia de amanhã ( e o seguinte), satisfaz momentaneamente mas compromete o futuro.

Sem entrar em detalhes mais filosóficos parece ter aqui validade a frase antiga "No meio é que está a virtude".

Mas quem definirá esse "meio"? Numa recta de comportamentos mais ou menos despesistas, orientada a partir de "zero",  o Optimista achará que o seu "meio" é lá mais para a frente. O Pessimista entende que o "meio" que se adequa à sua maneira de pensar é  mais próximo do "zero".

Na altura de votar para as eleições legislativas, lá para 2019, votaremos "optimista" ou "pessimista"?

Pondo de lado as fidelidades amarradas aos partidos, se calhar o voto vai depender da forma como  cada um de nós passou o ano anterior. Melhor ou pior.

Atenção a 2018!

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