Não duvido que a corrida como desporto pode fazer bem à saúde dos especialistas , quer física como mental.
Tenho até alguns amigos runners e maratonistas, com quem continuo a dar-me bem depois de me terem garantido que aquilo não era contagioso...
Tenho já muito mais dúvidas se essas ganas de andar sempre a 100 à hora devem ser aplicadas à nossa filosofia de vida diária. O ansioso "galinha tonta", sempre a correr de um lado para o outro sem se saber bem o que está a fazer, consta do anedotário da maioria dos locais de trabalho e muitas vezes tem contrapartida real, em pessoas que todos conhecemos (salvaguardando algum exagero).
Viver a vida assim depressa de mais até pode ser perigoso . O grande humorista Millör Fernandes contava que evitou a prisão no tempo da ditadura porque, dada a sua natural preguiça a deslocar-se, quando chegou ao carro policial que o transportaria para detrás das grades este estava já cheio com outros camaradas "mais rápidos" que tinham chegado antes...
E concluía dizendo que a calma nunca mandou ninguém para a choça. Enquanto que a falta dela...
Homenageando Milton Viola (Millör) Fernandes, que também foi poeta, aqui ficam umas pérolas da sua (calma) sabedoria:
Poeminha Compensatório
Amigas, venham todas
Tragam o sal, o sol, o som, a vida,
O riso, a onda.
Eu sou o Cavalheiro da Triste Figura
Mas tenho uma bela Távola Redonda
Saio sempre do cinema
Com o sentimento desagradável
De que, se não houvesse lido a
Crítica, teria sido formidável!
Poeminha sobre as Reacções Paradoxais numa Sociedade
Na conversa sofisticada
a debutante, nervosa,
tem um problema bem seu:
fingir que entende tudo
ou fingir que não entendeu...
Poeminha Tentando Justificar Minha Incultura
Ler na cama
É uma difícil operação
Me viro e reviro
E não encontro posição
Mas se, afinal,
Consigo um cómodo abandono,
Pego no sono.
Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"
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