Narceja ( gallinago gallinago) , a que voa e que se come ( e é de cair para o lado) é um bicho pássaro invernante, próprio das zonas húmidas. Lindo de ver a voar em grupo, mais lindo ainda de ver no pratinho (com desculpas aos naturalistas e eco-cientistas).
Prima da galinhola, divide com ela o trono da mais apetecível espécie venatória que se pode caçar legalmente no nosso país. Digo eu...
Mas as "narcejas" a que me refiro no título são outras... Refiro-me às bebedeiras, berlaites, mocas, barrascos, pifos, borracheiras, camoesas e por aí fora. Um festival de álcool que antigamente - nos dias da juventude insensata, universitária - assinalava o início das férias de Verão.
A "Queima das Fitas" (no final de Maio) servia de treino, mas a verdadeira "encabadela da machada" (não confundir com "encavadela" que tem todo um outro sentido mais carnal) só se dava na altura em que a malta se via livre dos exames, tendo os mesmos corrido mais ou menos bem.
No meu caso o local do crime era normalmente o Algarve, a Praia de Monte Gordo ainda civilizadamente limpa de multidões, areia a perder de vista, mar azul esverdeado, algum dinheiro na algibeira (melhor dito, nos calções), amigos para conviver e amigas para namorar.
Comíamos uvas durante o dia, compradas no mercado, aos quilos, para poupar as "massas" para a noite. E esta era passada normalmente na discoteca do Vasco da Gama, recentemente inaugurado e que era o habitat favorito da "jeunesse dorée" alentejana e portuense ali a banhos.
Mas isso era para depois. A primeira noite de liberdade, fora dos pais e até fora das namoradas oficiais (que ficavam em Lisboa, pois os bons costumes da época não as permitiam acompanhar os machos) era vivida todos os anos como se fosse a última noite que passávamos na terra...
Dormíamos na areia, tomávamos o primeiro banho de mar sem ir à cama (o que era bom para a ressaca) e antes dos bens pensantes, bem falantes se aproximarem dos toldos e chapéus de sol já nós tínhamos debandado para o parque de campismo, para curar o que restava da bezana monumental que assinalava o início das férias.
Mais tarde, já a trabalhar, mudei as agulhas do campismo para o hotel e de Monte Gordo para Vilamoura, onde um amigo mantinha um barco de recreio - o Sea Wolf. Também aqui a primeira noite das férias costumava ser fortemente assinalada, agora de forma bem mais burguesa, sentado à mesa do Akvavit a beber vodkas na companhia do patrão sueco ( e esplendorosa mulher...) e só terminando a noite já com o sol alto, a sair do velho Patacas Bar, local de culto onde todos os "pielas", novos ou velhos, se encontravam no final da noite como se viessem ao engodo. Pareciam lulas com os olhos a brilhar...
Nota: Este "Patacas Bar" foi o local onde - diz a a lenda - pai e filho ficaram ao balcão, a beber ao lado um do outro sem se reconhecerem, tal o tamanho das cadelas que ambos traziam pela trela. Duas verdadeiras Serra da Estrela! E de pêlo comprido!!
Hoje estou domesticado. Mais que domesticado, tenho até algum receio destas cenas que metem copos a mais e consequentes ataques aos fígados e outras vísceras. É a idade...
Mas a memória fica.
- "La culture, c'est ce qui reste dans l'homme lorsqu'il a tout oublié".
(Émile Henriot ).
De certeza que assim é. Mas acrescentarei:
- " E as recordações dos dias de ouro do fim da adolescência".
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