"O poeta Fernando Guimarães venceu a primeira edição do Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes concedido pela Associação Portuguesa de Escritores e pela Câmara de Amarante.
O júri constituído por António Mega Ferreira, Fernando Martinho e José Manuel Mendes decidiu, por unanimidade, atribuir o galardão ao livro "Os Caminhos Habitados" editado pela Afrontamento.
“Um livro que exprime, na renovação e no aprofundamento, a consistência de toda uma obra, aqui conseguida segundo uma precisão até organizativamente notável”, pode ler-se no comunicado da Associação Portuguesa de Escritores, que elogia ainda a “exigência formal e uma concisão e densidade raras na poesia portuguesa contemporânea.”
Venha de lá então um poema, ou dois, do grande poeta portuense Fernando Guimarães para este dia de final de Agosto.
PÁGINA
Principiamos a ler. O rosto inclina-se. Ainda separadas,
algumas das letras estremeceram.
Tudo aquilo que se sente
é a respiração que fica à sua volta.
O ar destina-se às palavras
e também ao silêncio.
A luz que chega pode explicar-nos
melhor o que se passa. Os olhos sabem-no.
Daí a pressa
com que se aproximaram dela, até se tornar o que se leu
mais nosso.
Depois repousamos um pouco. Uma das mãos
estende-se e vai ao encontro de outra página.
Esta será maior.
AUTO-RETRATO
Está incompleto. Ainda se vê metade do rosto. Sabe-
mos como se acentua junto dos olhos a mesma sombra.
Os lábios fecham-se; à sua volta, um halo apenas: continuam
afastadas as pregas da cor, o rumor trazido pela luz.
Há um contorno que pode tornar-se nítido.
É tudo o que se
procura.
Depois esperamos que venha a respiração ao encontro dessa superfície
até se encontrar um nome.
É o meu. Se quiserem podem esquecê-lo agora.
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