Um Coice sempre foi a pancada para trás realizada por certos quadrúpedes. Mas dada a falta de quadrúpedes qualificados (que marcham mesmo com as quatro patas) nas ruas das nossas cidades, hoje em dia torna-se a velha palavra mais um sinónimo de brutalidade, de alguma resposta dada com falta de educação.
Dizem os entendidos que o mais valente coice do reino animal é o da girafa, capaz de abrir o crâneo a um leão (com juba e tudo) se o encontrar no caminho. Os engenheiros mecânicos explicam o assunto com a dimensão da perna da bicha, de mais de 2 metros de altura, o que aliado ao efeito do potente gluteo maximus (talvez o mais poderoso músculo do corpo) permite dar um pontapé para trás de efeitos devastadores.
Já o grande Eça celebrava a palavra no seu "A Ilustre Casa de Ramires":
"..E Gonçalo enrugou a face, a sua risonha e lisa face, para declarar secamente que Corinde não pegava com Santa Ireneia! Entre as duas terras corria muito justificadamente a Ribeira do Coice, e que o senhor André Cavaleiro, e sobretudo Cavalo, era um animal detestável que pastava na outra margem!"
Mas hoje o caso que aqui trago é mais a utilização da palavra "coice" na gíria moderna: Ser alguém maltratado por uma pessoa sem educação e grosseira. Levar uma patada, metaforicamente falando.
O desaforo público parece ter-se tornado perfeitamente normal. Faltas de respeito, atrevimentos fora de contexto, palavras escolhidas para ferir a honra de terceiros, e por aí fora.
Ainda se estas actividades de diarreia verbal descontrolada se dessem por norma na Assembleia da República, compreenderia. No fim de contas trata-se de uma espécie de moderno Coliseu onde quase tudo é permitido, até chamar nomes feios aos espectadores da Galeria...
Mas em actividades pretensamente comerciais? Por gente que tem "porta aberta" e aparentemente necessita de clientes pagantes?
Bem sei que simpatia é uma coisa e subserviência é outra. E que a época do "atento, venerando e obrigado" já passou... Mas que diabo! Quem quer comprar e pergunta delicadamente tem direito a uma resposta amável!!
Num destes dias observei uma senhora já de uma certa idade a ser ignorada e tratada com grande sobranceria por uma jovem atendedora numa loja da ZON (hoje NOS). Fiquei varado... É que agora há concorrência na venda dos telemóveis...
Depois ainda questionam porque é que a FNAC sobrevive? Sobrevive porque treina o pessoal a respeitar o cliente sempre , e em primeiro lugar.
Traduzo livremente de Harvard:
"Alguns vendedores tendem erradamente a adoptar uma postura agressiva em contacto com o público. Isso pode atemorizar o consumidor, deixando-o menos propenso a comprar. Pior ainda: ao perceber que é tratado apenas como um degrau que se pisa rumo aos objectivos de vendas, o cliente sente-se desprestigiado e ganha uma razão para optar pela concorrência."
Dizem que Sócrates (o antigo!!) passeava por Atenas quando um individuo, que o detestava por alegadamente estar a ensinar filosofia ao filho, lhe deu um pontapé na perna sem mais aviso.
O filósofo nada fez.
Estranhando os amigos a sua pacatez perguntaram-lhe por que não respondera?
"- O que haveria eu de fazer? Depois de dado o coice, estava já dado.
- Pelo menos devia levar o energúmeno à justiça!
- Se ele ao dar coices revela ser jumento, quereis que leve um jumento à justiça?"
Grande Sócrates ( o velho!!!) que ainda hoje muito nos ensina...
Claro que a forma de responder civilizadamente é nunca mais pôr os pés em semelhante estrebaria onde ocorreram os ditos "coices".
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Um comentário:
Sr Correio-mor: Na Assembleia da Republica eles e elas nem coices sabem dar pois aquilo está cada vez mais um Alcouce!
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