Irritam-me aquelas listas das revistas semanais ou mensais onde os restaurantes e bares se classificam pela frequência mais habitual, convencendo assim a malta esganada e sem cheta que lê os artigos nas salas de espera dos consultórios que ir lá, estar numa daquelas mesas, pode ser igual a fazer parte da "manada" que habitualmente por ali tem "habitat"...
O Snob é para os Jornalistas; o Eleven para Empresários; o Gambrinus para os políticos de Lisboa , industriais do Porto e ricos agrários transtaganos; o Solar dos Presuntos para a malta da bola, do teatro e da política; a Tia Matilde para os lampiões (isso por acaso é verdade); o Saraiva's era para lagartões; O Bica no Sapato dedicava-se a certas "vanguardas" da moda e do espetáculo; o Mar do Inferno será dedicado às Tias de Cascais e (oh infâmia!!) aos novos-ricos que por lá pululam falando línguas eslavas; O English Bar (hoje Cima's) será para nostálgicos da monarquia e outros antigos regimes, etc, etc....
Desta forma, se um gajo normal como nós ganhar 400€ na lotaria e for almoçar com a patroa ao Gambrinus (400€ chegam se tiver juízo com o que beber) pode ser confundido com um grande agrário alentejano enquanto não abrir a boca. Mas se ao invés for visto no Mar do Inferno pode muito bem passar - como costuma dizer um amigo meu - por um dos banqueiros russos de Gibraltar. Lá está, desde que se mantenha mudo e quedo, dando indicações à D. Lurdes através do esbracejamento.
Um dos melhores restaurantes que conheço em Lisboa para o lado da comida familiar, tratamento familiar, cave de vinhos e de espíritos de cair para o lado, chama-se a Horta dos Brunos . Apesar ( ou por causa) das idiosincrisias do proprietário (ou se ama ou se odeia, não há meios termos) está agora na moda, o que muito chateia a fiel clientela de largos anos, habituada a meter o nariz na cozinha, cheirar os tachos e provar deles, beijar a cozinheira, e o mais que se faz em casa de família.
Infelizmente - para quem como nós o descobriu há largos anos, por trabalhar ali na Casal Ribeiro, pertinho da rua da Ilha do Pico onde se situa - parece estar agora conotado com a élite de um certo Partido Político... Pelo menos assim li num desses jornais semanais...
Ora o que eu posso garantir é que essa "gente" se vai lá não monopoliza a casa - que é pequena - nem aparece muito quando eu lá estou (e ainda bem!). E quem de facto o frequenta nada tem a ver com a política, a não ser - como dizia o nosso saudoso Raul Solnado - que seja a política do trabalho!
Eu consigo compreender e respeito que uma trupe escolha um restaurante pelo Bacalhau das Segundas feiras (A Tertúlia); pela excelente Feijoada de Sames de Bacalhau ( O Jockey); pelo Pregado Estalado no Forno (o Beira Mar); pela canja de Robalo com Ameijoas da Tia Matilde; pelo Cozido à Portuguesa do Rosa da Rua ao Bairro Alto, pela Lampreia do Solar dos Presuntos...
Já me custa mais a aceitar que se escolha uma morada de comes e bebes para compartilhar a mesma atmosfera que, por exemplo e sem maledicências, o Ministro Miguel Relvas...
Até porque, como dizia o sempre amado David - no âmbito de uma fala de anedota onde um pacóvio se referia a uma rusga no antigo "Nina", por cima do S. Carlos, e confundia "ambiente" com "atmosfera":
"-Ele há locais em Lisboa onde não há atmosfera, sobretudo durante a noite".
E eu acrescento: "-Até me faltava o ar naquelas companhias..."
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