Chegámos à 1ª Sexta feira do 2º Troikano.
Para celebrar poeticamente este 2013 tenho que dar voltas à cabeça, a qual - como é do conhecimento comum - já nem funciona muito bem parada, quanto mais "esgaseada" pelas ditas voltas.
Mesmo assim aqui vai a minha proposta: versos sobre nós mesmos. O que somos? Como nos encontramos connosco quando, pela manhã, olhamos ao espelho o reflexo da nossa imagem?
Sobre esta matéria duas reflexões um pouco amargas (que os tempos vão de feição) . Umas delas de meu mestre Borges, a outra de um poeta nosso contemporâneo: Mia Couto.
Sou
Sou o que sabe não ser menos vão
Que o vão observador que frente ao mudo
Vidro do espelho segue o mais agudo
Reflexo ou o corpo do irmão.
Sou, tácitos amigos, o que sabe
Que a única vingança ou o perdão
É o esquecimento.
Um deus quis dar então
Ao ódio humano essa curiosa chave.
Sou o que, apesar de tão ilustres modos
De errar, não decifrou o labirinto
Singular e plural, árduo e distinto,
Do tempo, que é de um só e é de todos.
Sou o que é ninguém, o que não foi a espada
Na guerra.
Um esquecimento, um eco, um nada.
Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"
Fui Sabendo de Mim
Fui sabendo de mim
por aquilo que perdia
pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia
fui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei
eu vi
a árvore morta
e soube que mentia
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
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