Agora com o falecimento do meu Tio José veio isto tudo de novo ao de cima.
Fico sem jeito com estas obrigações sociais que envolvem as conversas com o coveiro e com o padre, a combinação da cerimónia, o afundamento das campas, a limpeza e remoção das ossadas que por lá se encontram, a missa de corpo presente...Tudo com o objetivo de dar o eterno descanso ao falecido.
Tendo isto em vista, a cremação parece ( e é) um final bem mais sossegado e airoso do que o tradicional "enterro". Pelo menos mais simples e elegante.
Uma amiga psiquiatra já me tinha informado que não se devem minorizar estas exéquias, já que as mesmas fazem parte integrante de um processo de "nojo" (aqui utilizada a palavra no seu significado original de "luto").
E parece que sem se fazer este luto e passar por esse período de "nojo" não podem as pessoas que cá ficam retomar seriamente a sua vida de todos os dias. Psicologicamente falando.
Assim será com certeza.
Por mim sempre vos digo que a melhor forma que tenho de me livrar desses fantasmas e de encarar com alegria as saudades de quem parte, é lembrar-me das boas cenas em que estive envolvido com o meu Tio José.
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Nomeadamente das latas de caviar que me trazia do Hotel Palácio quando lá pernoitavam as equipas de futebol de Leste que vinham jogar as eliminatórias da Champions (da altura) com o Benfica.
Leão de gema (leão da serra, porque foi sócio do Sporting da Covilhã até morrer) o meu Tio tratava desveladamente daquela malta de Leste, sempre pensando que assim contribuía para a derrota do rival Benfica. E os Dinamos ou Lokomotifs ou Steuas etc... retribuiam as amabilidades com o caviarzinho. Nessa altura raríssimo aqui no burgo salazarento.
Tudo lhe perdoávamos (eu e meu Pai), mesmo o empurrão que dava aos adversários do nosso Benfica, porque lá vinha depois o caviar em latas de kg ter connosco a casa...
Hoje não lhe posso chegar - está sempre nas prateleiras mais altas das lojas Gourmet :):):) - mas os kg que dele comi já ninguém mos tira!
E ao meu Tio o devo! Um Abraço também por isso!