De Torga e de Fernando Pessoa (aqui travestido do seu heterónimo menos conhecido, Alexander Search) dou-vos duas reflexões sobre este tema.
Sobre o modo como nos podemos sentir - todos nós - quando percebemos que, por muito que se reme para a frente, a maré e os ventos contrários levam a barca para trás.
E este ano de 2012 terá sido um pouco isso... O que nos revelará 2013?
Frustração
Foi bonito
O meu sonho de amor.
Floriram em redor
Todos os campos em pousio.
Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor.
Só que não houve frutos
Dessa primavera.
A vida disse que era
Tarde demais.
E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais.
Miguel Torga, in 'Diário XV'
Morte em Vida
Um dia mais passou e ao passar
Que pensei ou li, que foi criado?
Nada! Outro dia passou desperdiçado!
Cada hora já morta ao despontar!
Nada fiz. O tempo me fugiu
E à Beleza nem uma estátua ergui!
Na mente firme nem credo ou sonho vi
E a alma inútil em vão se consumiu.
Então me caberá sempre ficar
Qual grão de areia na praia pousado,
Coisa sujeita ao vento, entregue ao mar?
Ah, esse algo a sofrer e a desejar,
Inda menos que um ser inanimado
Sempre aquém do que podia alcançar!
Alexander Search, in "Poesia"
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