Não exatamente a "Alma Grande" de meu mestre Torga, personagem de estranheza lá para os confins das serras , nas aldeias de tradições judaicas ainda vivas, mas sim a "alma grande" que se revela nas alturas em que temos de nos revelar superiores às circunstâncias, por muito extremas que estas sejam.
Naquelas alturas onde até parece que crescemos uns centímetros sem nos pormos em bicos de pés...
William, (o velho Shakespeare) era tido e havido como profundo conhecedor destas coisas. Das palavras e dos assuntos que fazem a alma aumentar. Reparem neste seu tributo à Beleza:
Unthrifty Loveliness
Unthrifty loveliness, why dost thou spend
Upon thyself thy beauty's legacy?
Nature's bequest gives nothing, but doth lend,
And being frank, she lends to those are free:
Than, beauteous niggard, why dost thou abuse
The bounteous largess given thee to give?
Profitless usurer, why dost thou use So great a sum of sums, yet canst not live?
For having traffic with thyself alone,
Thou of thyself thy sweet self dost deceive:
Then how, when Nature calls thee to be gone,
What acceptable audit canst thou leave?
Thy unus'd beauty must be tomb'd with thee,
Which used, lives th' executor to be.
Upon thyself thy beauty's legacy?
Nature's bequest gives nothing, but doth lend,
And being frank, she lends to those are free:
Than, beauteous niggard, why dost thou abuse
The bounteous largess given thee to give?
Profitless usurer, why dost thou use So great a sum of sums, yet canst not live?
For having traffic with thyself alone,
Thou of thyself thy sweet self dost deceive:
Then how, when Nature calls thee to be gone,
What acceptable audit canst thou leave?
Thy unus'd beauty must be tomb'd with thee,
Which used, lives th' executor to be.
William Shakespeare
E, já que estamos nesta, que melhor "fermento" de alma do que esta "Ode à Beleza"?À Beleza
Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.
És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.
És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.
És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.
És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.
Miguel Torga (Odes)
Nota: "Alma Grande, por Miguel Torga (Novos Contos da Montanha) - A personagem de Torga – o chamado abafador – encarregava-se de abreviar os últimos momentos dos moribundos. Assim evitava que o rito cristão fosse imposto a quem tinha a Tora inscrita no sangue. Na realidade, o abafador praticava a eutanásia em situações extremas, em que uma sociedade sem voz se libertava dos moribundos por razões de sobrevivência cultural. A eutanásia, que tanto horroriza a nossa sociedade, seria admitida nessas serranias porque tinha uma motivação ético-religiosa".
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