sexta-feira, outubro 21, 2011

Para descansar a Vista

Poemas de chuva, para conjurar a dita , tão arredada deste Outono que já tememos a falta das couves nas hortas. Sejam as da província (ainda existe?) ou as do IP 17... E como (não) estão as coisas neste Jardim, se não houver nabos nas hortas muita fominha há-de comparecer à mesa dos portugueses.

Peritos nesta coisa de chamar a chuva eram os índios das grandes planícies norte-americanas... Em louvor deles, de Sitting Bull , do grande chefe Red Cloud, do "war chief" dos Sioux Oglalas Crazy Horse, trago em primeiro lugar Emily Dickinson, a reclusa poetisa de Amherst, Massachusetts, que apenas depois de morta foi publicada:

The pretty Rain from those sweet Eaves

The pretty Rain from those sweet Eaves
Her unintending Eyes
Took her own Heart, including ours,
By innocent Surprise

The wrestle in her simple Throat
To hold the feeling down
That vanquished her defeated Feat
Was Fervor's sudden Crown...

Emily Elizabeth Dickinson (December 10, 1830 – May 15, 1886)

E em seguida, lembrando as ditas Hortas (mesmo a Horta dos Brunos!! Falar disso já me está a fazer larica Carago!)  lugar a um poeta do campo, Francisco Bugalho. 

(Biografia por cortesia de "Laços de Poesia").

Poeta e lavrador, exerceu durante anos também as funções de conservador do registo predial de Castelo de Vide. Natural do Porto, adoptou como suas a terra e as gentes em que viveu a maior parte da sua vida. Foi pai de outro poeta hoje esquecido, Cristóvam Pavia (de seu nome de baptismo também Francisco Bugalho), de pendor expressionista, que a seu tempo teve o apreço das tertúlias literárias lisboetas e que tal como o pai veio a falecer muito novo.
Três foram os livros que publicou em vida - Margens (1931), Canções de Entre Céu e Terra (1940) e Paisagem (1947) - que constituem, dentro da produção poética do grupo da revista “Presença”, a que pertenceu, alguns dos espécimes em que melhor se alia um equilibrado sentido de modernidade a uma profunda apreensão de múltiplos valores do nosso lirismo tradicional.
Faleceu em Castelo de Vide, em 1949, com apenas quarenta e quatro anos de idade. Os três livros que publicou em vida foram postumamente, em 1960, reunidos num único volume, intitulado Poesia.

Chuva

Chuva, caindo tão mansa,
Na paisagem do momento,
Trazes mais esta lembrança
De profundo isolamento.

Chuva, caindo em silêncio
Na tarde, sem claridade...
A meu sonhar d'hoje, vence-o
Uma infinita saudade.

Chuva, caindo tão mansa,
Em branda serenidade.
Hoje minh'alma descansa.
— Que perfeita intimidade!...

Francisco Bugalho, in "Paisagem"


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