Escrevo com o Sol já a despontar no horizonte sobre o Tejo, adivinha-se um dia de Verão que teima em não nos deixar. Mas para 700 000 famílias portuguesas fez-se ontem uma noite que tão depressa não os vai abandonar. Uma noite gélida, quase um Inverno nuclear que se abate sobre a classe média nacional.
700 000 funcionários públicos e mais de 1 milhão de pensionistas em causa... Juntamente com os Trabalhadores das Empresas do SEE e suas famílias. Já uma vez teremos feito estas contas. Será quase 30% da população portuguesa atingida por este Tsunami que Pedro Passos Coelho ontem nos anunciou.
Se tomarmos em conta todos os sacrifícios que já se abateram sobre o Funcionalismo Público, Pensionistas de rendimentos médios e Trabalhadores do SEE, incluindo a inflacção, verificaremos que a quebra real de rendimento líquido disponível atingiu já, em 3 anos, para alguns deles onde me incluo, 30%!!
Estamos a ganhar menos 30% líquido do que em 2009!!
Inaudito. Nunca na história de Portugal tal se passou.
E há que lembrar que muitas famílias utilizavam os subsídios de férias e de Natal para pagar as suas dívidas e acertar as suas contas! Não para ir às compras e passar férias na Madeira! Agora como vai ser? Introduz-se de novo no Código Penal a figura da prisão por dívidas, como nos romances do Dickens?
O maior problema nesta decapitação da classe média é não haver esperança... Nada do que ontem foi dito nos pode encaminhar para um patamar de sofrimento a prazo... Ao contrário, o sofrimento desta gente parece ( aparenta ser) duradouro e inescapável.
E as teorias sobre o "trade off" isto é , que o Funcionalismo Público sofre mais do que os outros Trabalhadores em troca pela segurança do Emprego, cedo serão postas à prova. Exactamente na altura em que as Empresas Públicas e o Estado começarem a despedir. Não haja dúvidas sobre isso. Aliás, essas medidas para o sub-sector dos Transportes foram já anunciadas.
E, finalmente, é a injustiça social deste "Pacote" que me dá voltas ao estômago. Com o Trabalho em geral e o SEE de novo a fazer a parte de Vilão numa Farsa que não escreveu nem sequer encenou, mas da qual parece ser o principal culpado.
De facto compreendo que estando os bancos aflitos de liquidez não se taxem mais os Depósitos a prazo, por exemplo. Mas o que se vai fazer às Mais Valias de negócios de Bolsa? E como se vai actuar junto das remessas para os off shores?
Tudo ainda está muito nebuloso em relação ao "estendimento" desta austeridade extrema para esses casos, para o capital.
E a Economia? Com o IVA a 23% para quase tudo? E sem investimento? E sem consumo privado nem público? Irá alegremente afundando-se como se verificou com a Grécia? De pacote de austeridade em pacote de austeridade, até alguém levar as chaves do país a Berlim?
Aguardaremos obviamente pelo esclarecimento do OE nos seus detalhes, tal como o inefável Zorrinho ontem proclamou, mas uma coisa parece certa: a partir daqui e durante alguns anos , o caminho é sempre a descer...
Nota Final: Fiquei até tarde a ouvir muitos comentários a esta catástrofe anunciada. Pareceu-me subentender das intervenções de alguns "espertos" convidados pelas TV's que a estratégia de Passos Coelho seria conter o déficit em 2012 e 2013, à bruta, para depois ir à Troika renegociar o prazo de pagamentos. Nessa altura poderíamos respirar.
Pode ser que assim seja, mas tanta coisa pode correr mal "nos entretantos" que parece grande atrevimento jogar assim com a vida de cada um de nós. Basta pensar que se a Grécia se afunda todas as contas terão de ser refeitas. Ainda mais lá para baixo.
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