Todos temos os nossos velhos. Alguns , suponho que a maioria , melhor dito, desejo que a maioria, estarão bem cuidados em nossa casa ou em lugares adequados. Outros não. É esta uma das maiores vergonhas da nossa sociedade actual. Causada em muitos casos pela necessidade, admito, mas sobretudo pelo egoísmo.
Nesta deslocação obrigatória para avaliar uma situação dessas, familiarmente muito próxima de nós, coisas ruins, que não desejamos, vêm-nos à cabeça. O que fazer para prevenir estas atrocidades, como minorar os efeitos da crise na restrição da rede da Segurança Social que se avizinha, como - enfim - garantir uma velhice digna e uma morte em paz.
Bem sei que as situações mais negras são sobretudo fenómenos urbanos, causados pela precariedade do emprego, pela exiguidade dos apartamentos, pela má vontade de noras e genros, pelo fraco número de filhos que possam contribuir para pagar um lar decente, essas coisas.
Em famílias grandes, com hábitos antigos e casas espaçosas da "província", estas situações de repúdio são raras. Os velhos morrem nas suas camas, em casa dos filhos, rodeados pelos netos e bisnetos. Ou pelo menos assim era há poucos anos atrás...
O problema está no cada vez maior número de casais com filhos únicos, a viver em apartamentos de 3 assoalhadas de onde os filhos têm cada vez mais dificuldade em sair para casar e constituir a sua própria família.
Esta sociedade actual garante - do ponto de vista médico - que os velhos duram cada vez mais tempo. Os novos medicamentos assim o permitem. Mas o que não garantem é a qualidade dessa vida cinzenta, feita ao crepúsculo, apoiada em boas vontades e em caridades alheias, transformada em fardo para o ou (para a)descendente.
Não quero isso para mim. Acho que preferia morrer cedo e bem do que tarde e mal. Nunca tive medo da morte. Sou optimista por natureza por isso a morte não é para mim mais do que um novo começo, uma nova aventura a desbravar. Agora passar 10 anos da minha vida a ser um fardo para os outros? Isso nunca!
Todos compreendem que o problema reside nisso mesmo: quem somos nós para garantir que a morte vem cedo e depressa , ou mais tarde e lentamente?
Daqui a necessidade de prevenir. O dinheiro ajuda? Infelizmente sim. Cada vez mais, agora que o Estado fecha progressivamente a mão que geria os apoios à Segurança Social.
Nesta República Democrática da Liberdade de Abril estamos a caminho de uma situação onde seremos cada vez mais desiguais perante a velhice, a doença prolongada e a morte .
Os meus avós diziam sempre que "era preciso ter um dinheirinho de lado para alguma doença", naqueles tempos do Salazar em que não havia Plano Nacional de Saúde.
Voltaremos a esses tempos. Se não para alguma doença, então para acautelar a qualidade de vida na velhice. Não se fiem na Reforma. Comecem já a poupar.
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