Quando eu fazia ainda este tipo de análises, lá na Faculdade, a existência de situações semelhantes constituíam uma benesse pedagógica: poder tentar explicar aos alunos que o comportamento das massas votantes tem tanto de previsível, em função da estimativa dos resultados, como de emocional face aos "drivers" da decisão.
Como se escolhe o Partido (ou, melhor dizendo, a "pessoa") em quem se vai votar? Por lealdade e entropia (sempre votei neste ou naquele); por gratidão (foi no seu mandato que me aconteceu isto ou aquilo de bom) ; mas também - e quase que direi sobretudo - por raiva e desespero contra o "Outro" que me fez passar um mau bocado.
Se estou desempregado, se me baixaram o salário, se a minha qualidade de vida está pior do que estava, se os meus filhos não conseguem ter emprego... Então vou votar na alternativa ao Status Quo porque preciso urgentemente de um "Bode Expiatório", já que a natureza humana não admite, nem sequer entende ponderar, que algumas dessas circunstâncias negativas podem ter sido causadas pelo "próprio". A culpa é sempre dos outros, dos malandros do Governo que causaram estas coisas..
Deste modo bem se verá que José Sócrates deveria levar "palmatoadas" de vulto, esperando-se que abandonasse a cena política com o rabo entre as pernas, aliás como tiveram que fazer os seus homólogos Irlandês e Grego depois das eleições naqueles países.
Mas...tal não está a acontecer...
A razão para esta aparente incongruência, ainda mais do que a notada inaptidão do PSD actual para fazer passar a sua mensagem, é, na minha opinião, apenas esta:
O Medo de que as coisas, caso o PSD seja Governo, ainda fiquem piores para o povo do que estão agora.
Ao enveredar por uma estratégia de Liberalismo puro e duro, profetizando que - quando for Governo - ainda há-de ir mais longe nas medidas de austeridade do que a famigerada Troika, o PSD de hoje e o seu líder Pedro Passos Coelho metem medo ao Povo.
Nem questiono se o que se trata é apenas um síndroma mal curado de dependência "materna" ... Embora de facto é mais que certo que o seja. Mal preparados para a vida real, os lusitanos ferozes iam à guerra até onde a vista e os braços da "Mãe-Pátria" alcançavam...Fora de pé, para longe dessa rede protectora, só se aventuravam os verdadeiramente audazes.
Fomos, desde o 25 de Abril, "Mal Educados". Dependiamos em larga medida do Estado-Providência, da tal "Mãe-Pátria". Esta tomava conta dos seus, distribuia os subsídios, fazia com que a escolinha não se pagasse, todos tinhamos a saúde acautelada , mesmo em alturas de azar lá estava a "mão da Mãe" a amparar por baixo.
Agora querem que o "trapezista", de um momento para o outro, se faça à pista sem rede? Isso é que era bom!
Enquanto Pedro Passos Coelho não entender este medo atávico de "ficar sózinho no escuro sem protecção" de que sofre a maioria dos portugueses com menos de 60 anos (os que viveram a maior parte da sua vida dentro dos benefícios da democracia e da adesão à UE) , não conseguirá "enxotar" José Sócrates .
Este, por seu lado, e com todos os seus muitos defeitos e presunções, é mestre na arte da demagogia e nunca se cansará de agitar os "fantasmas" que assustam o nosso Povo: Segurança Social para as urtigas, escola a pagar, taxas moderadoras cada vez mais altas nos Hospitais, medicamentos com cada vez menor comparticipação... e por aí fora.
Será que estou ainda convencido que o PSD e Pedro Passos Coelho ganharão a votação de 5 de Junho?
Bem, acho que devo (como dizem os americanos) invocar de momento a 5ª Emenda, ou seja, reservar a minha opinião definitiva lá mais para as últimas semanas desta "liça"...
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