sexta-feira, janeiro 28, 2011

Para Descansar a Vista

De Fiama, grande poetisa às vezes injustamente esquecida, aqui vos trago dois poemas. Fiama faleceu com 69 anos, em 2007, depois de uma vida dedicada às letras.

 Estreou-se como autora com Em Cada Pedra Um Voo Imóvel (1957), obra que lhe valeu o Prémio Adolfo Casais Monteiro. Ganha notoriedade no meio literário com a revista/movimento Poesia 61, em que publica o texto «Morfismos». É considerada como uma das mais importantes escritoras do movimento que revolucionou a poesia nos anos 60. Foi premiada em 1996 com o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores. O seu livro Cenas Vivas foi distinguido em 2001 com o prémio literário do P.E.N. Clube Português.

A sua actividade no teatro iniciou-se com um estágio, em 1964, no Teatro Experimental do Porto e com a frequência de um seminário de teatro de Adolfo Gutkin na Fundação Calouste Gulbenkian, em 1970. Em 1974, foi um dos fundadores do Grupo Teatro Hoje, sendo a sua primeira encenadora com Marina Pineda, de Federico García Lorca. Em 1961 recebeu o Prémio Revelação de Teatro, pela obra Os Chapéus de Chuva. É autora de várias peças de teatro.

Traduziu obras de língua alemã, de língua inglesa e de língua francesa, de John Updike, Bertold Brecht, Antonin Artaud, Novalis e Anton Tchekov, entre outros.

Colaborou em publicações como Seara Nova, Cadernos do Meio-Dia, Brotéria, Revista Vértice, Plano, Colóquio-Letras, Hífen, Relâmpago e A Phala.
















Um Dia

Um só dia
entre poetas e poemas
e nada soube
das caras que dormem
no lago de Kivu.

Um só dia
a compor palavras cheias de sentido
e todavia alheias a hora.

Nesse dia guardo na cova da boca
a minha obsessão sem gritos
por essas formas que flutuam,
formas que caminham,
formas que jazem.

E nos restantes dias
quer pense , quer grite,
nada posso.


Imagem Minha

Ficas a ler comprazida diante das rosas
silhueta que vislumbrei compus e reanimei.

Tinhas o perfil marcado cruamente pela luz,
as mãos claras no colo, os cabelos despojados
do brilho das cabeleiras soltas, mas juvenis
e sacudidos no início da tarde com alegria.

As páginas balouçavam do mesmo modo que as rosas
porque ao começar a tarde nos dias de Verão
brisas e vapores estendem-se desde o mar
até às margens floridas.

No teu banco
adornado por festões de rosas trepadeiras
afastas os olhos do livro não absorta
mas para sempre atraída por inúmeras imagens.

Fiama Hasse Pais Brandão, in "Três Rostos - Poemas Revistos"

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