sexta-feira, janeiro 21, 2011

Para Descansar a Vista

Dou-vos "Portugal" de meu Mestre Torga.

Não sei porque motivo chamo sempre o grande transmontano à colação antes de umas eleições.... Talvez porque,  com Manuel da Fonseca e Aquilino,  seja o mais genuínamente português de todos os poetas portugueses, cheirando  à terra e ao suor do rosto do cavador de enxada... Desse mesmo imberbe matarruano que deu de comer às Cortes e serviu nas  caravelas do Príncipe Perfeito, depois de ter quebrado as costas a plantar para D. Dinis os cavernames dos mesmos navios.

Onde está esse português hoje?

Provavelmente ao balcão de uma pizzaria, num centro comercial, metido na "alegre legião dos 400" (dos 400 mil que ganham 400 euritos e já gozam...)

Portugal

Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que não te desfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.

Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço:

Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.

Miguel Torga, in 'Diário X'



Nenhum comentário: