Todos sabemos já que a Crise está aí para "lavar e durar".
Não é a do nosso futebolzinho, com as suas intrigas de bastidores e cenas de melodrama - como a do fds passado no Digº Conselho de Justiça da FPF - mas falo da crise verdadeira, daquela que afecta a nossa vida de todos os dias, a nossa carteira, o nosso nível de vida , a forma como nos relacionamos uns com os outros.
Neste Sábado de manhã, logo à abertura como é meu costume, estava no Hipermercado onde me abasteço normalmente e pude observar algumas famílias madrugadoras nas suas compras.
Logo na bancada do peixe desencadeava-se a corrida para a sardinha da época, dos poucos peixes que ainda se pode levar para casa remediada em Portugal.
A chefe das vendedoras, que já me conhece há anos, bem tentava empurrar-me para a "outra" banca, a dos peixes de mar, anunciando-me o preço "em saldo" do Cherne (a 19.90€) ou o dos Robalos (pouco mais).
Elas já sabem que me contenho durante o ano a comprar peixe, mas que chegada a Páscoa, o Natal ou o Verão , nas vésperas das partidas para a Serra, abro a bolsa e deixo nas bancas 200 ou 300 € de cada vez. É estranho - ou se calhar não - que sejam estas compras mais desmesuradas e sazonais que ficam na memória das trabalhadoras, apenas 3 ou 4 vezes por ano, e não a minha actividade semanal de comprador comedido nos mesmos locais...
Mas a crise, como começei, lia-se nesse Sábado nos olhos meio encovados do peixe de mar e nas suas escamas já a passarem para o lado de lá... Mesmo o abundante chuveiro que as zeladoras insistiam em enviar para cima das bancas em pouco disfarçava o (algum) atraso das peças em exposição.
Avancei e cheguei à zona da charcutaria. Muita gente comprava mortadelas e galantines, boas companheiras para executar refeições leves (em tudo, até no preço) com dois ovos estrelados por cima e umas batatas fritas. Todavia , na prateleira refrigerada dos presuntos encontrava-se o "Pata Negra" de Barrancos de novo em saldo (por se encontrar quase a passar o prazo de validade), 100g por 5,00€, ao invés do preço habitual que era de 15,00€...
"São sinais da crise", dirão alguns. "Essas coisas sempre aconteceram mas agora damos-lhe mais importância", dirão outros.
Pode ser... mas saibam que até na circunspecta FNAC dei por menor movimento nestes fins de semana , "porventura também influenciado pela debandada de férias" - dirão os mais optimistas.
"Férias? Mas quais Férias e para onde? " respondem os "outros" a quem o dinheiro já nem chega para os compromissos mensais, quanto mais para devaneios caniculares.
Toda a moeda tem verso e reverso e é normal que algumas pessoas tirem partido das épocas de crise (não sei bem em que ramos LEGAIS da actividade económica, mas isso é outra conversa).
Mas... já levo experiência de várias crises cá dentro de mim, desde que a OPEP cortou pela primeira vez o fluxo do petróleo, em 1973, em "révanche" por causa do apoio ocidental à Guerra do Yom Kippur...
E - não sei se será da idade ou da disposição - nunca nenhuma me pareceu tão sólida e duradoura do que esta que actualmente enfrentamos.
Um comentário:
É infelizmente uma verdade de monsieur de Lapalisse, que a crise que infelizmente não é só económica ou financeira, mas de uma encruzillhada e um Sistema em crise, mas também de valores e de ideologias, segundo uns, o que me custa a crer, pelos sintomas.
Há realmente uma crise que o sistema de Capitalismo Liberal, não consegue no seu seio encontar soluções, pelo contexto em que a mesma se desenrola, num contexto global e aonde os sistemas de comunicação e informação fazem a sua perninha.
Estamos perante uma situação em que os receituários do passado não funcionam, pela acção dos processos de especulação e pela incapacidade reactiva das forças em presença.
A situação é grave e é nas horas dificeis que se veem os Homens, mas creio que a agudização da crise Social poderá levar a situações mais graves.
Sem péssimismos, mas há que mudar atitudes,comportamentos e agir de forma mais clara que é o que "na era da informação" e da comunicação Global e instantânea,não é claro.É tudo muito opaco e pouco claro, há muita cortina de fumo.
A crise é em parte económica, especulativa e por arrasto financeira, mas é sobretudo Social e as soluções apresentadas é mais liberalização, mais desregulamentação,regresso a sistemas anteriores à revolução Industrial?( 65 horas de trabalho, será que está tudo louco?!).Quo Vadis Domine?Os mais dependentes( velhos, crianças,desempregados.....países subdesenvolvidos...África....) que paguem a crise?
Menos econometristas, mais Sociólogos e Filósofos alguém diria...A crise creio que é das mais graves, desde que me conheço, porque não vejo soluções envolventes e criativas, mas sempre mais do mesmo, mais liberalização, mais desregualmentação, mais insegurança, mais especulação, expectativas pouco a nada animadoras para a maioria e as assimetrias cada vez maiores entre Ricos e Pobres....Há que inverter isto e que os Senhores da Guerra ,os donos verdadeiros, não estejam à espera de uma crise Social ainda maior para que nova ecatombe Global atinja esta bola azul...Há que ter esperança mas será que na caixa de Pandora ela ainda lá mora?
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