Quando comecei a ganhar dinheiro como assistente na faculdade, em Outubro de 1977, decidi que era a minha vez de cumprir o dever cívico dessa aquisição. E nunca mais deixei de o fazer.
Já nessa altura (começou em 1976) José Quitério escrevia a sua crónica de gastronomia no semanário. E não seria apenas por ela que o Expresso me sabia tão bem como o primeiro café da manhã, mas era fundamental para compor o ramalhete.
Probo,
ridiculamente honesto, senhor de enorme cultura geral que o leva a discorrer
também pela Tauromaquia e pelo Tango, José Quitério diz que a sua actividade
não tem segredos. Era preciso provar muito e ler ainda mais. Ter cuidado com as
fontes e nunca abdicar de pôr em causa conceitos e lugares desde que a
experiência não os recomendasse. E estudar. Estudar sempre.
Dois
textos de Quitério tenho como exemplares. O seu panegírico ao nosso Bacalhau, “Um
Adeus Português”, de tal forma impressionante que David Lopes Ramos o considerava o mais notável texto feito sobre o
assunto na nossa língua, tendo-o várias vezes citado ipsis verbis. E o que dedicou aos 50 anos da morte de Manolete, em Agosto
de 1997. Ambos publicados no Expresso.
O
gosto pela nossa cozinha, pela investigação dos detalhes curiosos a ela
associados e por procurar onde bem comer
devo-o a ele. E foi esse interesse, semanalmente espevitado, que permitiu mais tarde incluir na minha actividade profissional
esta faceta nobre da divulgação dos usos e costumes gastronómicos lusitanos.
Foi
com o José Quitério que começámos a aventura da divulgação mundial da
gastronomia portuguesa através dos selos postais. Portugal foi o primeiro país
do mundo (em 1996) a colocar nos selos de correio imagens com os pratos tradicionais de cozinha, e esse facto a
ele se deve. Hoje muitos países nos imitam.
Os CTT Correios de Portugal já
emitiram 73 selos e 15 blocos filatélicos dedicados à Gastronomia de
Portugal, com uma tiragem conjunta de mais de 19 milhões de unidades.
E, para além disso, temos 9
livros sobre temas de gastronomia também editados ou no prelo, com tiragens
conjuntas de mais de 55 000 exemplares, tendo sido o primeiro “Comer em
Português”, de José Quitério, lançado em 1997. E os dois últimos serão
lançados em Abril e Junho de 2015 - “Conversas de Café”
de Fátima Moura e “A Dieta Mediterrânea” de Fortunato da Câmara.
Presumo que, em termos de quantidade
de mensagens que circulam por todo o mundo através dos nossos selos e dos
nossos livros bilingues, serão os Correios de Portugal dos mais prolíficos
divulgadores dos usos e costumes gastronómicos do nosso país.
E tudo começou pelo Expresso e pelas
crónicas do José Quitério.
O fim do ciclo aproxima-se, com o
anúncio feito na última edição do Expresso (3 de Janeiro de 2015) sobre a
substituição de José Quitério na autoria da crónica semanal de gastronomia ,
por motivos de saúde. Nesta passagem do testemunho felicito o Expresso pela
escolha do substituto , e transmito a Fortunato da Câmara desejos sinceros de boa fortuna. Saber e
Vontade de bem fazer não lhe faltam.
Mas não posso deixar passar a ocasião
sem agradecer ao “Zé” por todos estes anos, enviando-lhe desta forma um abraço
bem apertado. E grande. Tão grande como só ele foi e ainda é, em todos os sentidos.
Obrigado meu Amigo, por todos estes anos.
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