sexta-feira, novembro 02, 2012

Noite hospitalar

Depois de 9 horas a passear o real assento pelas cadeiras das urgências do Hospital de Cascais (já quase não tinha cú quando finalmente cheguei a casa para tomar um duche) , e depois de muita interacção com a malta profissional de saúde lá do local , não posso dizer mal do acolhimento nem do tratamento (naquilo que pude observar, porque quem lá estava dentro, na maca,  a amargar, não era eu).

Noite de urgências na véspera de feriado ( e ainda por cima noite de Haloween)... É de esperar muita complicação, e mais ou menos foi isso que se passou, desde as crianças que partiram braços, cabeças  ou dedos nas festas, até aos inevitáveis idosos que tanto naquela noite como noutra qualquer têm de ser assistidos, passando pelos vários amantes de Baco, que levaram esse "amor" até ao último grau (e quando escrevo "último" era último mesmo...).

Se excepcionarmos o facto do SO ser comum a homens, mulheres, (mas não a crianças) e nele terem de se acolher tanto o bêbedo sem sentidos, como a velhinha traumatizada (que era o meu caso), nada posso dizer de mais negativo sobre as condições do hospital.

Nem macas nos corredores, nem vomitado pelo chão, nem sangue pelas paredes, nem ratos à vista (dos de 4 patas),  nem exéquias estranhas na sala de espera - apesar, ou por causa, da muito evidente presença da autoridade policial.

Para além do evidente stress da ocasião - e por muito que eu aqui brinque hoje,  para exorcisar o medo que ainda tenho,  é evidente que a situação era complicada - há que reconhecer que foi feito bom trabalho na organização da unidade hospitalar. E eu posso falar porque muito bem conheci o anterior local desse mesmo hospital.

Todavia, houve uma cena mais fora do vulgar que passo a relatar.

Uma senhora na casa dos  60's, sozinha mas muito bem arranjada - à vista parecia classe alta ou média alta - só arranjou cadeira na sala de espera das Urgências ao lado de dois cidadãos de cor que esperavam por outro que perdera os sentidos e caíra de cabeça no chão.

Os cidadãos já de si falavam  muito alto, porque tinham uns phones nas orelhas por onde ouviam música étnica, mas quando recebiam ou faziam chamadas  pelo IPhone (sim, eu escrevi IPhone!)  é que era o bom e o bonito! Toda a gente da sala de espera ficava a saber os pormenores da conversa, e era tchilar para aqui , bué para ali, e depois as inevitáveis palavras do vernáculo da malta nova (de qualquer cor):
-  "Tu não me fales desse Cabr**!";  "Da-se!" ; "Vai mas é para o Ca****!"   E por aí diante.

A senhora do lado estoicamente  nada dizia. Os rapazes de vez em quando davam-se conta e pediam desculpa:

- " A senhora desculpe a conversa..."

E ela respondia:

-" Não se incomodem porque eu sou muito falha de ouvido e nem me dou conta do que estão a dizer..."

E embora ela lhes tivesse logo respondido, como se ouvisse ainda melhor do que eu, que estava a 5 metros e não perdia nada,  eles acreditaram...

Grande Senhora!

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