Comecemos pela notícia da Lusa:
Lisboa, 08 mar (Lusa) - A designação "vinho leve" vai manter-se um exclusivo das regiões de Lisboa e do Tejo, anunciou hoje a Comissão Vitivinícola da Região (CVR) de Lisboa em comunicado.
"Como consequência das diligências empreendidas pela direção da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa o IVV [Instituto do Vinho e da Vinha] reviu a sua posição e decidiu manter a produção de Vinho Leve um exclusivo das Regiões de Lisboa e do Tejo", informou a CVR de Lisboa.
Na Revista de Vinhos já o assunto mereceu também ( e bem) tratamento:
Entretanto, a CVR Lisboa reuniu com os responsáveis da região da Península de Setúbal e sugeriu que a partir de agora, os produtores desta região, utilizem a expressão "Baixo Grau"que para mais tem uma tradução simples e imediata: “low alcohol”.
Ao mesmo tempo houve um imediato acordo entre todos os intervenientes, de que o Vinho Leve deveria manter-se sempre dentro de determinados parâmetros de valores de álcool e acidez que ficaram assim balizados:
1- Alcoól: este teor não deverá ultrapassar os 10,5%Vol.,
2- Acidez: a mínima andará na casa das 4,5 Gr/Litro.
O Vinho Leve foi criado por Portaria em 1985 e aberto a todas as Regiões que dele quisessem tirar partido. Como só as Regiões que hoje se chamam Lisboa (antiga Estremadura) e Tejo, (Antigamente Ribatejo) é que o produziram, desde 1993 está consignado a estas duas Regiões apenas, e assim ficará."
Ferreira Fernandes, num excelente artigo para o DN acrescenta a esta matéria:
"A escalada do grau alcoólico vai parar. Em 15 anos, subiu 2 ou 3 por cento de teor alcoólico. 14 graus que, ontem, eram só de exagerados vinhos marroquinos, são comuns em Bordéus;até os nossos verdes, tão leves antigamente, não se encontram a menos de 12 graus.A causa é uma das provas do aquecimento global: mais temperatura, mais açúcar nas uvas, o que fermenta mais álcool. Um absurdo que contradiz as campanhas contra o consumo exagerado de álcool. Os produtores do Novo Mundo,australianos e americanos, já há muito utilizam métodos técnicos para diminuir o álcool, mas os regulamentos europeus impediam esse uso. Agora, já há legislação preparada para mudar. Preparem-se para o habitual combate: tradicionalistas contra o bom senso. Vencerá o que tem de ser."
A minha opinião:
1 - Vender grau álcool por vinho de mesa tornou-se hábito. Mau hábito. Alguns Vinhos do Douro e Alentejo a 16º e mesmo a 17º já apareceram no mercado. A 15º existem muitos. 14,5º parece ser agora a norma... Daqui a pouco a distinção entre um Porto e um vinho de mesa será apenas no sabor... E pergunto se não andamos nós desfasados no tempo? Será que eram os orientais ricos de Shangai e Hong Kong que tinham razão quando acompanhavam as refeições com Cognac?
2 - Dizia o saudoso Dr. Chambel que "fazer um bom vinho de 12,5º não é para todos! Agora dar ao mercado vinhos espremidos à Parker, com mais de 14º? Para isso existem já as receitas todas nos livros...". E ele sabia do que falava.
3 - Tendo tudo isto em mente é normal que se aplaudam todas as ideias que permitam construir bons vinhos de mesa, para aperitivos, para consumir em bares, esplanadas e discotecas, para o Verão, para acompanhar as pastas e os enchidos, etc... até aos 10,5º. Fora do Solar do nosso Minho, dos nossos Vinhos Verdes, onde tudo isso já era realidade há muitos anos atrás. Perguntarão os mais puristas: "Vinhos a menos de 10,5º??!! Mas isso ainda é vinho ou trata-se de água pé disfarçada de vinho?". É Vinho Senhores! E pode ser do bom!
4 - Quem ainda se lembra que EVEL (grande e clássica marca da Real Companhia Velha) não é mais do que "Leve" ao contrário? E que foi construído pelos enólogos daquele tempo exatamemnte para ser uma alternativa às cervejas e sangrias no Verão? Quem ainda se lembra que foi um "Vinho Leve" - O Mateus Rosé - que permitiu à Sogrape amealhar para manter os Barca Velhas , Reservas Especiais e outros que nos aquecem o coração?
Em conclusão: Há espaço e tempo para tudo. Para uma perdiz das verdadeiras, um grande tinto do tempo frio, com corpo e grau que se aguentem mutuamente. Para petiscar com uns percebes a saber a mar, nada melhor do que um vinho leve e fresco, branco pois então!
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