A Chuva já apareceu tímida. Não sei se o nosso amigo Pajé já terá começado a pajelança lá em Manaus (o que não é certo, pois o Pajé é da tribo mas não é parvo. Sem uns trocos por fora bem podem esperar sentados).
Para lhes dar força ( à chuvinha e ao Pajé) fica então aqui um poema de coragem e de confiança no futuro (ou não...). E se as palavras animadoras, se este "pep talk", tiver a virtude de animar mais alguém que precise, ainda melhor.
De Machado de Assis deixo-vos "Dois Horizontes":
Dois horizontes fecham nossa vida:
Um horizonte, — a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, — a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, — sempre escuro,—
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.
Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais;
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.
Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.
No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, — tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.
Que cismas, homem? – Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? – Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.
Dois horizontes fecham nossa vida.
Machado de Assis, in 'Crisálidas'
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