sexta-feira, março 30, 2012

Para Descansar a Vista

Finalmente, a Chuva! Pelo menos aqui para o Sul e Vale do Tejo, mas  espera-se que neste fds avance para cima, para as Beiras e para o Norte Transmontano, que bem precisam...

Segue um poema de chuva, bendizendo o silêncio que se desprende das cataratas celestiais:

Chove. Há Silêncio

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"


Nota: Quadro de Leonid Afremov

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