quinta-feira, janeiro 28, 2010

Para descansar a Vista

Manuel da Fonseca. Nome grande das nossas letras, mais esquecido nestes tempos do que quando travava o "bom combate"... Acontece com muitos, infelizmente.

Biografia da autoria de Luis Gaspar: nasceu em Santiago do Cacém, em 1911. Fez os estudos secundários em Lisboa, tendo se dedicado desde cedo ao jornalismo. Em 1925 publicou num semanário de província os seus primeiros versos e narrativas.


Iniciou se em poesia com a colectânea ?Rosa dos Ventos? (1940) e na ficção, com os contos ?Aldeia Nova? (1942). Ligado ao neo realismo, evoluiu no sentido de um regionalismo crescente, ligado ao seu Alentejo natal, retratando o povo desta região e a miséria por ele sofrida. Contestatário e observador por natureza, a sua escrita era seguida de perto pela censura.

Colaborou em várias publicações, de que se destacam as revistas "Afinidades", "Altitude", "Árvore", "Vértice", "O Pensamento", "Sol Nascente", "Seara Nova", os jornais "O Diabo" e "Diário" e fez parte do grupo do "Novo Cancioneiro".

Escreveu, para além das obras referidas, os volumes de poesia "Planície" (1941), "Poemas Completos" (1958), "Poemas Dispersos" (1958), os contos "O Fogo e as Cinzas" (1951), "Um Anjo no Trapézio" (1968), "Tempo de Solidão" (1973), "Crónicas Algarvias" (1986), e os romances "Cerromaior" (1943), e "Seara de Vento" (1958). Colaborou também no jornal "A Capital" em 1986, com as "Crónicas Algarvias". Preparou ainda a "Antologia de Fialho de Almeida" (1984). Manuel da Fonseca faleceu em 1993.

Menino


No colo da mãe
a criança vai e vem
vem e vai
balança.

Nos olhos do pai
nos olhos da mãe
vem e vai
vai e vem
a esperança.

Ao sonhado
futuro
sorri a mãe
sorri o pai.

Maravilhado
o rosto puro
da criança
vai e vem
vem e vai
balança.

De seio a seio
a criança
em seu vogar
ao meio
do colo-berço
balança.

Balança
como o rimar
de um verso
de esperança.

Depois quando
com o tempo
a criança
vem crescendo
vai a esperança
minguando.

E ao acabar-se de vez
fica a exacta medida
da vida
de um português.

Criança
portuguesa
da esperança
na vida
faz certeza
conseguida.

Só nossa vontade
alcança da
 esperança
humana
 realidade

Manuel da Fonseca, in "Poemas para Adriano"

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