sexta-feira, janeiro 22, 2010

Para Descansar a Vista

Finalmente um Poeta ainda vivo! A pedido de muitos leitores, um pouco assombrados pela poesia dos mortos, aqui vai a Elegia da Esperança de Gastão  Cruz.


Biografia sintéctica dos Editores de Gastão Cruz:

Poeta e crítico literário, Gastão Cruz nasceu em Faro no ano de 1941. Licenciado em Filologia Germânica pela Universidade de Lisboa, foi professor do ensino secundário e leitor de português no King’s College, em Londres.

Como poeta, começou por se destacar com a sua participação na revista Poesia 61, no início da década de 60, sendo autor de uma obra vasta e em contínuo crescimento.
Colaborou com vários jornais e revistas como crítico literário, tendo traduzido autores como William Blake, Strindberg e Shakespeare. Foi ainda um dos fundadores do grupo Teatro Hoje, onde encenou várias peças.

A obra de Gastão Cruz foi distinguida com inúmeros prémios, entre os quais se contam o Prémio PEN Clube de Poesia, em 1985, e o Pémio D. Dinis, atribuído pela Fundação Casa de Mateus. Em 2002, o seu livro de poesia Rua de Portugal foi distinguido com o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, e em 2005, com Repercussão, ganhou o Grande Prémio de Literatura dst. O seu livro A Moeda do Tempo conquistou o prémio literário Correntes d'Escritas/Casino da Póvoa 2009.


Elegia da Esperança

1
Disperso disseste disseste não obstante
a treva que enquanto refresca renasce
disseste que trava e que rasga e obsta
disseste uma dor disseste
um sistema e agora de noite
relembro essa treva narrada depois
de a carne rasgar


Memória disseste e relembro e canto
e daqui te chamo pois relembro o mar
derramo e contanto que a noite levante
disperso direi disseste estarás

2
Moves as palavras que palavras são
encontro diante distante e saudade
moves as palavras agora que
o mundo pois alastra e esquece
em todas as noites do corpo contando
que corpo contém palavras mais que
continente é pois distância palavra

quanto mais um homem dizendo palavras
disperso na terra na noite do mar
quanto mais de sangue depois de dizer
que a treva se faz e pode lembrar
e pode esquecer e pode a esperança
renascer ainda que disperso canse
e cante disperso diante do mar


Gastão Cruz, in "A Doença"

Nota: A Fotografia "Elegia da Esperança" é de Sofia.

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