Farto de tanta desgraça dei por mim a reler uma destas noites o velhinho Eça .
Nestes dias onde tudo o que é jornalista, radialista ou âncora de TV publica romances - nunca li nenhum, só vejo de relance e às vezes o "Equador" na TVI por causa das senhoras actrizes (salvo seja) - faz bem perdermo-nos outra vez na mente intrincada do João da Ega às voltas com o seu Livro, o tal admirável e único Livro que nunca escreveu nem escreverá - o Átomo!
João da Ega era um homem de gostos refinados, amante da boa vida , amigo dos seus amigos, tinha sempre a resposta na ponta da língua e esta era afiada deveras... Lá tirou o curso em Coimbra, com os seus vagares; depois... bem, depois tinha uma Tia e uns Pais ricos que o "amparavam" na sua vida de diletante, amador da gastronomia portuguesa e francesa e , mais do que tudo, de intelectual boémio e bem nascido, colaborador em alguns periódicos mais pelo prazer de ver o seu nome em letra de imprensa do que por outra coisa qualquer.
Ao contrário do seu amigo Carlos da Maia - um "sportsman" na altura, diríamos hoje um "playboy" - João da Ega nunca foi muito dado às actividades físicas, com excepção da frequência da cama da "banqueira" Cohen, nunca sabendo nós se o fazia por amor se por achar graça a "empalitar" o traste do seu Marido, presidente do Banco de Portugal lá na altura...
Mesmo sabendo que Eça de Queiroz o revestiu - segundo alguns biógrafos - da sua própria personalidade, é esta a personagem de "Os Maias" com que sempre mais me identifiquei.
Tem tudo o que é português de gema: nunca acaba nada do que começa. Só "trabalha" quando lhe dá na real gana. Diz mal de tudo e de todos. Não tem tento na língua. Despreza um Governo onde o imbecil Ministro da Educação pensa que os ingleses - "povo prático, povo eminentemente prático" - não têm literatura, nem cultura...
Leiam, leiam muito e outra vez "Os Maias" e vão ver como lá encontram retratos bem tirados daquilo que - ainda hoje - faz com que sejamos o que somos ... Para o Bem e para o Mal...
Um comentário:
Também sou um grande apreciador do Eça, que aliás, nunca foi tão actual, mas não faça confusões... há os «portugueses de gema» privilegiados - vulgo "tachistas"- como parece ser o caso e há os que trabalham e muito para levar para casa "algum" com que alimentar os filhos. Estes nem sequer sabem que há um "Púcaro", um "Mestre Zé", um "Monte Mar"... Têm que produzir para os "parasitas" poderem «nunca acabar o que começam» e «trabalhar quando lhes dá na real gana» e frequentar bons e caros restaurantes. Estes, a maioria é que são o «português de gema»
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