António Ramos Rosa nasceu em Faro, em 1924, trabalhando como empregado de escritório, correspondente comercial, professor e tradutor.
Nos anos 50, radica-se em Lisboa, vindo a ser director das revistas literárias Árvore, Cassiopeia e Cadernos do Meio-Dia, tornando-se conhecido como ensaísta e crítico literário. A partir de 1958, com a publicação do livro Grito Claro, torna-se conhecido como poeta.
São fundamentais na sua obra poética os temas da terra, da água, do fogo e do ar. Em 1976 recebeu o prémio de tradução da Fondation de Hautvilliers e em 1988 foi-lhe atribuído o Prémio Fernando Pessoa.
(Nota: bibliografia por cortesia de Bibliomanias/Poesia & Poetas)
Mediadora da Palavra
Um rumor irrompe das nocturnas margens.
Sombras deslumbrantes.
Um fulgor que desnuda e que despoja.
Campo de água ágil.
Dança
Imóvel.
Uma cegueira arde
Incendiando o tempo.
Pátria à espera de delicado alento.
Soberano marulhar do inexplorável.
Unânime é a pedra.
Selvagem a palavra despedaça a língua.
Um silêncio central domina e orienta
A substancia primária.
A palavra inicia.
Rapidez da água entre resíduos obscuros.
Talvez o diadema.
Talvez a obscura dança aérea.
O leve poder do fogo, as suas marcas
ácidas. Pulsação dos poros.
Ardor do silêncio no nocturno centro.
Fulgor do desejo.
Uma deusa de água espraia-se nas palavras.
António Ramos Rosa (n. 1924)
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