sábado, abril 11, 2009

Cheguei eu, chegou a Neve à Serra...


Bom, para dizer a verdade de facto coincidiu com a minha apresentação em S. Martinho a chegada do tempo frio e da neve ao maciço central... Agora entender daí que fui prenúncio da modificação climática é presunção que não posso nem quero assumir..Mas lá que dá um título de belo efeito para este Post, isso dá...

Ontem à noite , depois da cabeça de garoupa cozida com todos, com aquelas couves que se tornam doces e se desfazem na boca, havia pouco apetite para o jantar. Ensaiei um arroz de marisco com gambas e mexilhão, desperto com coentros picadinhos no final, mas o que valeu foi a companhia serrana que o devourou, fazendo jus ao trabalho do cozinheiro, pois a a malta que veio de Lisboa pouco manducou...

"Está tudo a dieta lá por Lisboa ou quê?"

"Vocês vêm mais magros! Pois pudera, se não comem já se vê que têm de emagrecer..."

Lá sossegámos as hostes que não se tratava de acomodar a crise gastando menos na comida, mas sim ter algum cuidado com a saúde e com a aparência...Aqui é que foi o problema...

"Aparência?!! Ainda para o Diogo vá lá que não vá, que é Jovem e precisa de encontrar mulher! Agora para si, nessa idade.. Tenha paciência que burro velho não aprende línguas! Coma e Beba e deixa as elegâncias para os novos!"

Eu bem disse que agora tinha namorada e que havia que brunir a jaleca, para não a envergonhar, mas não deu...

"Namorada!!?? Para que é que vocemecê precisa de namorada nessa idade??!! "

Para estes Amigos e Parentes (mulheres, já se vê!) o sexo deve acabar com a entrada nos quarenta, ou melhor, lá pelos 35 anos de idade... Deve ter sido a altura em que os maridos, fartos da comida caseira, começaram a experimentar um outro tipo de temperos...

A vida está difícil, e torna-se complicado explicar que um mânfio, embora já com os cinquentas no bucho, ainda não vive só de recordações, de buraquinhos feitos em abóboras aquecidas ou de grandes intimidades com a sua mão esquerda...

Agora que me saíu a "sorte grande" até consigo ouvir estes dislates do bom povo serrano com um largo sorriso nos lábios, seguro da minha "competência" nessas áreas carnais e tendo ainda na memória... (adiante que isto não é conversa para aqui...)

Tem paciência Isabel, que estou quase a chegar...

Para me vingar vou hoje fazer Feijoca com Pé de Porco para o almoço, e beber um tinto da casa tirado da barrica.

Feijoca à Pastor da Serra

Salgam-se de véspera os pés de porco, coloca-se a carne de vaca em vinha de alhos, lavam-se os chouriços de carne e reservam-se.

No dia pomos a cozer as carnes e a feijoca grossa num panelão, sem sal porque o pé já o leva.

À parte refoga-se noutro tacho azeite e alho com cebola fininha e três malaguetas desfiadas. Nesse refogado, depois de apurar, vai-se deitando lentamente umas conchas da água da cozedura das carnes , mexendo sempre com uma colher de madeira.
Este é o segredo para um molho grosso: pelo menos meia hora, a mexer devagar deitando água da cozedura das carnes.

Não tenham pressas, façam o refogado lentamente. Provem entretanto a àgua de cozer no panelão e rectifiquem de sal se necessário.

Quando o feijão estiver cozido retirem as carnes - pé de porco, carne de vaca e chouriços -cortem aos pedaços e reservem.
Está na altura de deitar a feijoca grossa para o tacho do refogado e deixar apurar uns minutos . A seguir , quando a feijoca começar a fervilhar, ponham as carnes de vaca e chouriço cortadas , por cima, e deixem cozinhar tudo lentamente por mais meia hora.

Bom Proveito!

Um comentário:

Anônimo disse...

Oh Sr Dr, Parabéns à Isabel. Além de um cozinheiro arranjou
um "garanhão" (pelo menos jactância, sobra-lhe). Pelos vistos o treino com as abóboras aperfeiçoou-lhe as performances...