segunda-feira, abril 06, 2009

O pudor de quem paga


"Quem paga é o Cliente!"

Já todos ouvimos um atendedor ou um empregado de mesa (ou proprietário de restaurante) mais aborrecido com a sua vida, pronunciar a frase realçada em cima. Esta é uma máxima do comércio de vigarista que tenta "passar" para o último degrau da escada a ineficácia da sua forma de fazer negócio e que não se deve confundir com a sua "irmã-gémea" : "Cliente é o que Paga!" que foi desenvolvida nos alvores do Marketing , nos EUA, para esclarecer de uma vez por todas como se identificava o Cliente em certos negócios mais confusos.

(Têm dúvidas? Então quem será o Cliente de uma estação televisiva? Quem vê (sintoniza) a estação, ou os anunciantes que lhe pagam e assim viabilizam financeiramente a sua existência? Ou ambos, já que a publicidade paga depende das audiências?)

A primeira frase é depreciativa porque implica desprezo para com o Cliente ou, na melhor das acepções, o reconhecimento de que as coisas más e desagradáveis são sempre passadas de mão em mão até acabarem no elo mais fraco: "quando o mar bate na rocha..."

A segunda frase, pelo contrário, é positiva e alerta o vendedor, o marketeer como agora se diz, para a necessidade de identificar perfeitamente a quem deve dirigir os seus esforços de "persuasão" , a sua publicidade. É um aviso para que se identifique correctamente o "target", o objectivo final de todos os esforços da companhia que tem um produto ou um serviço à venda.

Esta introdução serve para ilustrar o que tantas vezes se passa comigo e com alguns amigos meus.

Defensores da velha filosofia que o que interessa é passarmos por este mundo sem grandes sobressaltos nem grandes chatices, quando confrontados com situações de mau serviço ou de pior atitude por parte de quem "serve" (à mesa ou ao balcão , qualquer que seja o ramo) este tipo de pessoas - onde me incluo - prefere sempre passar adiante e ignorar o mau tratamento, do que fincar os pés no chão e exigir reparação lá mesmo, na hora e no local onde as coisas se passam. A nossa forma de reagir é nunca mais lá pôr os pés e passar palavra a toda a gente que conhecemos de que se trata de uma porta a evitar.

(Com esta atitude quem muitas vezes se "lixa" não é o "mexilhão", mas sim o Patrão, se a má educação for de algum empregado, com o seu desconhecimento.)

Mas existem outros cidadãos que não levam o "desaforo" para casa . Que imediatamente batem o pé e exigem o serviço a que têm direito. E que pedem o Livro de Reclamações , seja em Restaurante, Repartição de Finanças ou Super-Mercado.

Por estranho que pareça - e embora eu admire à distância quem toma essas posições de direito, porque reconheço que são elas que fazem progredir o mundo e que contribuem positivamente para o "bem comum" - quando pessoalmente estou acompanhado por quem as toma fico meio atrapalhado e não sei onde me devo meter...Até parece que fui eu que me "portei mal"...

Um grande amigo meu, já falecido, e que era a bondade em pessoa, dizia que "quem paga também tem pudor e há que respeitar isso". Nunca percebi muito bem o que ele queria dizer, mas entendo agora que deve passar por este tipo de atitude mais "cobarde", mais passiva do que reactiva, quando somos confrontados por mau serviço.

Esse meu amigo - que muitas vezes valeu a muita gente em dificuldades - costumava passar para o outro lado da rua quando avistava gente que lhe devia dinheiro! Quer dizer, não era o devedor que "fugia ao encontro" mas sim o que lhe tinha emprestado! Dá para acreditar?

Dá sim, porque conheço quem faça o mesmo ainda hoje ( e também sou eu, por acaso...)

O que ganhamos com esta postura conciliatória para com quem mal se comporta? Perdemos no imediato, no momento, mas ganhamos no médio prazo...

Provavelmente ganhamos anos de vida... Porquê? Porque evitamos o stress associado à discussão e porque tiramos as nossas conclusões serenamente para o futuro : normalmente esses são locais onde nunca mais voltamos a entrar.

É esta a atitude politicamente correcta? Claro que não... Mas não nos esqueçamos da velha máxima: "meu amigo é quem não me chateia" a qual eu complementaria com outra que inventei mesmo agora : " Só têm poder para nos incomodar as pessoas a quem nós próprios damos esse poder"

Ora não me estão a ver incomodado por gentinha sem importância nenhuma, pois não?

"Living well is my best Revenge!"

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