segunda-feira, março 10, 2008

O Tempo de Poesia



Quase nunca o "tempo" é exclusivo, dedicado a uma só função .

Não há de facto "tempo" para trabalhar, para descansar, para amar e para odiar.

Tudo isto fazemos num mesmo "tempo" se os estímulos a isso nos conduzirem...

Ama-se trabalhando mas ao mesmo tempo odeia-se muitas vezes aquilo que se faz.

Descansamos depois do sexo , amando ou odiando o que acabámos de fazer, às vezes amando e odiando ao mesmo "tempo"...

Encaramos os outros num repente de cólera ou de amizade e parece que o dia , que amanhecera belo ou carregado, se transforma na cor que os olhos dos outros projectam em nós, azul ou cinzento.

Uma só certeza: os nossos "tempos" têm de ser também "Tempos de Poesia".



Tempo de Poesia

Todo o tempo é de poesia

Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.

Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia

Todo o tempo é de poesia

Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas que amar se consagram.

Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia


António Gedeão

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