Nesta Primavera quase tão triste como as nossas vidinhas anima-se o panorama político.
Na sua missão de entreter o Povo, e dado que acabou o Campeonato Nacional de Futebol e ainda não começou o Mundial do Brasil, os nossos políticos inventaram agora a crise no PS.
Crise de há muito anunciada e que apenas a vitória nas autárquicas fez estagnar em água morna.
Depois das Europeias vem o Carmo e a Trindade para cima do Secretário Geral (melhor dizendo, vem o Costa e o Soares). O Secretário Geral "não tem carisma, não embriaga o povo, não entusiasma as audiências..."
Por acaso já tivemos cá no burgo um que fazia muito bem tudo isso, e depois foi o que se viu...Teve que ir para a Sorbonne.
António Costa é melhor do que António José Seguro? Teríamos que definir "melhor". Melhor não pode significar ser "melhor demagogo"! Disso já provámos e estamos agora na ressaca...
António Costa, segundo dizem, "é mais eficaz do ponto de vista das intervenções públicas, é mais conhecido, é mais de "esquerda" e, sobretudo, não tem medo de dizer exatamente aquilo que pensa."
O grande pecado de Tó Zé Seguro talvez fosse querer estar bem com todos , sem estar mal com ninguém. E as clivagens existem. É em função delas que os votantes actuam,
Veremos como esta "caldeirada" vai acabar. Mas até lá folgam os "maus da festa"...
E o Tio Jerónimo deve estar a rebolar de riso também.
Para dar ânimo às "bases" e enquadrar este "Combate dos Chefes", nada como um poema do nosso grande iconoclasta que foi Bocage (a ser muito justamente homenageado em selo, já em 2015).
Nós hoje diríamos "Cada macaco no seu galho!". Naquele tempo era mais a fábula do Leão e do Porco:
O Leão e o Porco
O rei dos animais, o rugidor leão,
Com o porco engraçou, não sei por que razão.
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna):
Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes,
Poder de despachar os brutos pretendentes,
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça;
Mas em vão, porque o porco é bom só para assar,
E a sua ocupação dormir, comer, fossar.
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria,
Soltavam contra ele injúria sobre injúria
Os outros animais, dizendo-lhe com ira:
«Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!»
E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais,
Ficava muito enxuto.
Atenção nisto, ó pais!
Dos filhos para o génio olhai com madureza;
Não há poder algum que mude a natureza:
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos.
Bocage, in 'Fábulas'
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