Nas casas antigas da aldeia o velho tapete de corda (às vezes de pneu) estava sempre do lado de fora da porta grande. Quem entrava limpava os pés.
Quem entrava e vinha do campo, ou dos estábulos, ou de "acomodar o vivo" , nem sequer entrava pela porta grande. Entrava pelas "lojas", que era o nome que se dava aos aposentos por debaixo da moradia familiar, onde se guardavam os cereais, o vinho, os utensílios agrícolas e algum motor de "curar" as vinhas.
Os tapetes de porta caíram em desuso nas cidades, com a generalização do saneamento básico e com a pavimentação das ruas. Mas ainda há quem os tenha.
Fazem um bocado de má vizinhança , quando são batidos à janela para deixar escapar o pó. Mas fora isso são artefactos úteis , embora nada devam à beleza.
Não estamos a falar das obras de arte da Manufactura de Portalegre (cerca de 30,000 euros os de tamanho médio) nem sequer dos Persas Tabriz de 70 Raj (raríssimos de encontrar no Ocidente) e sem preço. Mas estes são para pendurar na parede ou para pisar descalço, depois de lavar os pés várias vezes com sabão e pedra-pomes.
Tapetes desses, dos "bons" , são para ricas casas e ricos-homens. Ao povo (direi que a quase todos nós) cabe o velho protector de pneu da soleira da porta, e se tivermos sorte, algum "Arraiolos" que ficou de herança de uma tia velha.
Portugal, país que empobreceu nestes três anos de forma considerável, sairá do Programa de Resgate Financeiro sem Programa Cautelar ( como já se sabia há dias). Mas com o DEO "à maneira". Não se pode ter tudo, nem deixar de ter alguma coisa (digo eu). Leiam aqui o que Álvaro Santos Almeida (Ex-FMI) pensa destas coisas:
http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/alvaro_santos_almeida_deo_prejudica_9_milhoes_e_meio_para_dar_bonus_a_500_mil_pensionistas.html
De todas as formas, sair do programa sem "rede" é bom e desejável. Não quer dizer que o País esteja bem - nada disso!! - mas pelo menos ganhamos credibilidade e recuperamos algum do orgulho nacional.
Cada vez mais pobretes, mas também mais alegretes.
Os nossos credores virão cá mais vezes, as que forem necessárias para perceberem se o seu investimento está a ser bem tratado. Mas para já é bom saber que limparam os pés à nossa porta e partiram.
Terão limpo os pés em tapete de pneu e corda, mas quando chegarem a casa poderão descansar os olhos nalgum Tabriz trazido do Irão via Turquia, com passagem pela Afeganistão.
Melhor seria que tivessem comprado um na Manufactura de Portalegre, mas provavelmente não têm cultura para tanto.
O dinheiro não tem pátria.. Mas também não dá cultura a ninguém. Só empresta...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário