segunda-feira, agosto 12, 2013

Crónicas da Serra 3



Acho que nunca fumei. Pelo menos na acepção  tradicional do termo, em que entrava o chamado vício dos 30 ou 40 cigarros por dia, ou até mais.
Pelos 18 depenicava uma cigarrilha socialmente e para não parecer estranho junto dos colegas. Lá para os 21, já assistente universitário, entreguei-me à arte do cachimbo como forma de me dar um pouco mais ao respeito junto dos alunos (eram dos cursos noturnos e tinham o dobro da minha idade). Mas nem isso nem a barba que na mesma altura e pelos mesmos motivos deixei crescer me valeram muito…
Era bom pedagogo e sabia do assunto e foi isso que me safou. Tal como hoje em dia não existia substituição para o trabalho árduo. Cosmética e banho de boutique são bons para a televisão e para mostrar às massas ignaras.
Depois disso  uma certa afluência provinda dos anos de ouro da entrada na CEE permitiu-me conhecer o admirável universo dos “puros”. Tenho alguns ainda guardados para as grandes ocasiões (Hoyo de Monterrey e Partagas), mas a situação não permite renovação  como antigamente.
Tudo isto para dizer que aqui na serra retomei  a bolsa dos meus cachimbos e estou agora a ensinar o “senhorio”  a embalar os meninos na palma da mão.
Trouxe quatro da minha antiga coleção. Dois Peterson em pescoço de cisne, e dois direitos: um Dunhill que já me custou os olhos da cara e um Butz-Choquin mais curto e mais barato que é o que estou a usar para o desmame da criatura.
Ontem ao final da tarde, quando o sol abrasador deu lugar a uma bisa agradável, lá nos encontrariam aos dois no terraço, copo de Jameson’s com muito gelo e água numa mão e filosoficamente cachimbando.
E que bem que soube! Mas hoje à tarde há mais do mesmo!
Deixo agora estas reminiscências que hoje há que preparar o Tamboril em caldeirada à minha moda:
“Uma puxadinha leve de bom azeite, cebola às rodelas (pelo menos 3) alho, 2 pimentos aos pedacinhos, 2 bons tomates (apenas o suco , espremendo-o grosseiramente com as mãos), duas malaguetas também aos pedaços. Mão cheia de sal. Um copo de branco depois de estar a cebola loura, para refrescar.
A cabeça e os ossos do tamboril entram logo na puxada. Depois vamos colocando às camadas e alternadamente  a batata cortada às rodelas grossas e os lombos.
Ao fim de uma horita ao lume médio está pronto para ir para a mesa”
Vai ser acompanhado com um Branco de 2010 do Centro de Estudos Vitivinícolas de Nelas.

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