sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Para descansar a Vista

S. Pedro chateou-se com os indígenas. Se calhar por causa do meu gozo com a seca aqui publicado há semanas atrás. S. Pedro analisa sempre com cuidado este Blog e  quando lê algo que o tire do sério estamos bem lixados...também foi capaz de ter sido um bocado foleiro da minha parte estar assim a confundir Tintol e Briol com a águazinha...

Bom, viremo-nos então para outros Oragos... Para o povo sioux (grandes peritos em danças da chuva) ou até para o nosso velho conhecido, o  Curandeiro Tradicional  Kisibi Sumu, ("aka" Raimundo Veloso Vaz)  da  Comunidade de São João do Tupé - Manaus.

Não é que lá para o Mato Grosso, Pantanal ou quejandos falte muito a chuva... Mas podíamos sempre negociar uma espécie de "transvases espirituais". Está claro que para que o Pajé atenda e faça a pajelança é preciso dar-lhe uma gorgeta... Vem-me à cabeça, assim de repente, um lugarzito no Conselho de Administração da REN. O que acham? Sem chuva para que servem as Barragens? E estando a EDP já tomada ( e bem) falta a REN.

Mas adiante. Poema de chuva, portanto. Aqui vai ele:

Chove ? Nenhuma Chuva Cai...

Chove? Nenhuma chuva cai...
Então onde é que eu sinto um dia
Em que ruído da chuva atrai
A minha inútil agonia ?

Onde é que chove, que eu o ouço?
Onde é que é triste, ó claro céu?
Eu quero sorrir-te, e não posso,
Ó céu azul, chamar-te meu...

E o escuro ruído da chuva
É constante em meu pensamento.
Meu ser é a invisível curva
Traçada pelo som do vento...

E eis que ante o sol e o azul do dia,
Como se a hora me estorvasse,
Eu sofro... E a luz e a sua alegria
Cai aos meus pés como um disfarce.

Ah, na minha alma sempre chove.
Há sempre escuro dentro de mim.
Se escuro, alguém dentro de mim ouve
A chuva, como a voz de um fim...

Os céus da tua face, e os derradeiros
Tons do poente segredam nas arcadas...
No claustro sequestrando a lucidez
Um espasmo apagado em ódio à ânsia

Põe dias de ilhas vistas do convés
No meu cansaço perdido entre os gelos,
E a cor do outono é um funeral de apelos
Pela estrada da minha dissonância...

Fernando Pessoa (Cancioneiro)

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