O verdadeiro "Socialismo" , aquele que tem a ver com a socialização das pessoas, com a sua ligação umas com as outras, em casa ou nas adegas, terá começado aqui pelas províncias, sobretudo em terras de pequeno minifúndio e de algumas gentes, dado que no nosso Alentejo a lonjura de monte a monte e a pouca abundância de indígenas não devia ser propícia a muita conversa e a muito roçar de cotovelo.
Na Beira Alta, a Adega - pública (taberna) ou privada, mas mais esta - constítuia a tertúlia dos bons amigos, onde estes "repousavam" das tarefas do campo, onde jogavam à bisca, onde ouviam o relato do jogo do Benfica (maioritaríssimo nas preferências serranas) e onde discutiam o Árbitro com fervor, o Sacristão e o Padre mais ou menos abertamente , e o Regedor e outras autoridades civis mais ou menos encobertamente, nos tempos da ditadura, claro está.
Nos dias de hoje pouco mudou. Graças a Deus discute-se agora "o Sócrates" e o Governo, mas continua-se alegremente a dizer mal do Árbitro, Padre e do Sacristão e, obviamente, a ver os jogos do Benfica.
Nestas confraternizações, onde comparticipei sempre em nossa casa ou em casa de amigos, lá mais para a hora da "sossega" onde a santa trindade do queijo, presunto e vinho já tinha feito das suas, vinha muitas vezes à liça a questão bem árabe da predestinação, do destino a que todos estamos sujeitos.
O Serrano não admitia que as falhas da sua vida, aquilo que de menos bom lhe acontecia, tivessem a ver com ele ou com as suas atitudes... Tudo era levado à conta da "triste sorte" ou da "malfadada sina". Assim se desculpavam das desgraças que lhes acontecia.
Um velho vizinho do meu sogro, já falecido , tinha por alcunha o "Zé Bufa Bagina" - atenção, com dois b's!! A alcunha parece que lhe vinha do bafo alcoólico que lhe emanava das trombas dia sim, dia sim. Quase como se fosse o cheiro nauseabundo de uma..."coisa" lavada apenas ao Domingo, antes da Missa.
Este Vizinho Zé Bufa que costumava emborrachar-se todas as sextas e sábados, tinha um rebanho de cabras (melhor dito, 7 ou 8) que necessitavam da ordenha todas as noites.
Nos dias da borracheira nem via se aquilo eram cabras ou bois, quanto mais conseguir distinguir as tetas debaixo de cada uma das infelizes.
Por volta das seis da manhã as pobres berravam (como cabras) cheias de dores nos úberes, abarrotando de leite. O Vizinho, acordado pelos amigos que não conseguiam pregar olho com a berraria, vinha então encostar-se à porta da "loja" onde tinha as cabras, e filosoficamente confessava aos transeuntes:
-" No mundo está tudo escrito por Deus Nosso Senhor. Não podemos alterar nada! Por exemplo, é Sina que estas cabras têm , coitadinhas, de haver dias em que não se lhes tira o Leite".
Os amigos bem lhe gritavam:
"- Mas oh Zé Bufa, não lhes tiram o leite porque o dono emborrachou-se! O que é que isso tem a ver com a sina das Cabras?"
Ao que ele retorquia:
"- Não sabem o que estão a dizer! É tal-qual assim vai fazer quase dez anos! Sempre aos fins de semana! E podem ter a certeza que para o próximo também se passará o mesmo! É a Sina das Cabras, já disse!"
Vem isto a propósito de mais uma história de corrupção, agora via um tal negócio de "Submarinos", a qual envolveria o Governo PSD\CDS de Durão Barroso, mais um Contra-Almirante, e ainda mais um Cônsul Honorário de Portugal na Alemanha.
As autoridades alemãs investigam (o que , pelo menos a mim, me dá algum descanso sobre a rapidez das demandas) mas o assunto já vem em todos os Meios de Comunicação Social deste pobre País.
Ora vejamos: Houve os Sobreiros do BES, o Freeport, o Face Oculta; houve o Apito Dourado, e agora o caso dos Submarinos. Tudo isto em menos de 5 anos...
Ponho-me a pensar se não teria razão o Vizinho Zé Bufa Bagina... Portugal teria o (corrupto) destino traçado?
"É sina que as Cabras têm"...
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