segunda-feira, abril 26, 2010

Chapelada Davídica: A Importância do Tacho

Meu Mestre David Lopes Ramos escreveu artigo de antologia na Revista Pública deste Domingo. Em causa a coisinha pequena e modesta do...Tacho!

Não o Tacho-Tacho à la mode dos Boys and Girls dos Partidos de Governo... nem o Tacho-Tacho dos Autarcas e seus sicofantes...

Mas o Verdadeiramente Verdadeiro Tacho! Aquele que se pôe ao Lume. O que refoga, guiza, estufa e "cocotta" (sem maus pensamentos!!); aquele que  era (e ainda deveria ser)  posto em cima da mesa,  para que os arrozes continuassem a abrir em frente aos convivas, para que umas favas ensopadas no bom  molho do apuro lento pudessem continuar a rescender, para que as caldeiradas mantivessem aquela sapidez vital durante mais algum tempo, deixando os fígados de tamboril e as cartilagens dos patas-rôxas e das raias abeberarem em cima da boa batata da terra...

Desaparecem os Tachos de muitas mesas restaurativas do nosso Portugal. Por estarem fora de moda, por preocupações estéticas e quiçá higiénicas, pelo simples facto da dimensão actual das doses tender para o Infimo ( o mínimo dos mínimos) , mas , sobretudo, porque a filosofia de trabalho da maioria das casas de comer que por aí vai abrindo é geneticamente avessa ao "Tacho" e às suas implicações: provincianas, tradicionais, de farta-brutidão, "tabernático-pastorais", e quejandas...

Parece que estamos já a ouvir alguns dos jovens Chefs: 

-"O meu Bistrot nunca poderá ser confundido com uma Casa de Pasto!!! Isso é que era Bom!!! Prefiro fechar ao fim de 6 meses sem pagar aos empregados nem aos fornecedores..."

Já anteriormente tinha sido feito pelo mesmo Iniciado um alerta de semelhante teor, alvitrando algum cuidado na proliferação dos restaurantes de "Autor" onde os pratos chegam à mesa como obras de arte da composição estética, mas que têm uma tendência perigosa para...abrirem e fecharem com alguma rapidez, deixando os Chefs  e seus investidores a pensar para com os seus botões se não  deveriam antes ter aberto uma alfaiataria especializada em consertos e renovações (Cozer por coser, estão a perceber?)

Não me interpretem mal! A  - como lhe hei-de chamar?? Livra que é difícil!!. Vou tentar:    "A Nouvelle Cuisine portuga de base, de ingredientes autênticos,  tipo menu de arte do Chef candidato a Adriá com traços de Joan Roca "     terá o seu lugar, obviamente.

Talvez não com tamanha implantação no País ( e aqui o País pouco mais será do que Lisboa e Porto) como agora por aí se vê, mas há de facto lugar para esse tipo de cozinha.

Agora, não nos estraguem o prazer de comer os nossos pratos tradicionais , ditos   ( e muitíssimo bem!) De Tacho,  dentro do fiel Tacho!!

Não se esqueçam os nossos gurus actuais , aqueles que estabelecem as regras , os "árbitros das elegâncias" Petrónios das Avenidas Novas, que a matriz da Cozinha Tradicional deste país resistiu centenas de anos a investidas de muito lado (Mouros, Celtas, Franceses....) com eles aprendeu, reinventou-se e ainda aqui está, humilde e prazenteira, para fazer brilhar os olhos de ricos e pobres, aldeões ( se é que ainda os há) e citadinos,  por muitos mais anos...

Peço desculpa por perguntar: quantas centenas de anos durará esta moda das "espumas" , das "reduções" e das "aspersões"?

Ao menos Favas com Entrecosto estou convencido que hão-de comê-las os meus descendentes enquanto houver Favas, Coentros  ( e, já agora) Entrecosto de porquinho alentejano...

Homessa!

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