O antigo – provavelmente originado no Sec IX - ritual de Amentar ou Ementar as Almas será hoje de novo efectuado junto aos cruzeiros da aldeia, antes da meia-noite. Agora faz-se apenas na Sexta feira Santa. Mas já foi esta “Reza pelos Mortos” um ritual de toda a Quaresma.
A palavra “Amentar” e a sua irmã “Ementar” significam etimologicamente “alma” ou “espírito” a primeira, e “recordar” a segunda. Daí que o Prof Sousa Viterbo tenha dado de “Ementar” o significado : “quando os pastores da Igreja rezam pelos defuntos”.
Mais tarde as várias corruptelas vulgares deram a este antigo ritual nomes como “Aumentar as Almas” , “Encomenda das Almas”, “Pregão das Almas” ou ainda “Alimentar as Almas”. O que está na base do antiquíssimo costume não é mais do que um conjunto de rezas pelos mortos, curiosamente, nalguns locais, feitas pelos populares, sem a contribuição do sacerdote. Há também quem lhe chame a procissão sem padre da noite de Sexta Feira Santa.
Seguindo a Tese do Prof. Pinto Gonçalves, estudando este costume em Loriga, situam os eruditos no início do Cristianismo na Península Ibérica as origens do ritual, porque o seu cerimonial baseia-se em canto Modal, estando a respectiva melodia construída em torno do que chamam os etnomusicólogos “Modo autêntico de Ré, ou Dórico”. Tem algumas semelhanças com o Cantochão alentejano, (Gregoriano plebeu) sobretudo ao nível do responso e da existência de Melismas, sílabas únicas que se arrastam pela melodia fora.
O canto Tonal, a que todos estamos muito mais habituados, baseado em escalas musicais, só surge a partir dos sec XVII e XVIII.
Numa descrição de gente daqui de cima ( de Mangualde) aqui vai em que consiste esta cerimónia:
“O ritual consistia em sete Cânticos; sete apelos; sete orações; sete ais.
Neste costume é constante a lembrança da conversão do pecador, uma vez que a morte é certa para todos.
O Ementar das Almas, cantando e rezando, fazia estremecer e causar forte impressão e respeito aqueles que ouviam.
As pessoas eram escolhidas, o caso era muito sério e da maior responsabilidade. Os homens de capote ou casaco, de golas levantadas, chapéu inclinado para os olhos. As mulheres “agachadas” nos xailes pretos deitado pela cabeça, ao começarem fazia-se o sinal da cruz, uma voz do grupo, dizia :”- rezemos um Padre-Nosso e uma Ave-Maria, em louvor do Anjo da Guarda, para que vá em nossa companhia”.
Quem começasse não podia desistir, não se podia falar, nem olhar para trás durante o percurso, desde a primeira, até á ultima paragem. Não podiam ver ninguém, nem serem vistos por ninguém. À medida que o cântico aterrador soava, nas casas onde o ouviam deviam começar as orações pelos seus defuntos.
Tais cuidados eram tomados porque se dizia que as almas da freguesia seguiam atrás da procissão , desde o 1º cruzeiro, normalmente o do adro da igreja, até ao último de cada aldeia.”
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