Aqui na rua de S. Paulo, onde por vezes tomo o café da manhã se não passo primeiro pela Versailles, existe uma pequena pastelaria\café\leitaria que ainda tresanda ao Estado Novo, apesar do Plasma na parede (ou por causa disso) e dos micro-ondas permanentemente a trabalhar .
Encontramos naquele local, logo pelas 7.00h, uma fauna notável: o imigrado italiano de sobretudo e gravata que passa para beber a bica e dar uma olhada nos jornais desportivos para ir acompanhando o seu Inter, o imigrado de leste, que passa para comprar uma ou duas sandes que serão o seu almoço lá no "batimênt" desta bidonville à moda do Tejo em que estamos transformados, os reformados que - com os seus vagares - se sentam à mesa e discutem as 1as notícias do dia, o velho negro que faz uns biscates para os proprietários e vem logo ali tomar, à borla, também o seu café.
Operários portugeses não vejo lá muitos, mas os que vejo comportam-se como no "antigamente", naquelas memórias de neblina que tenho do quiosque da estação de comboios do Estoril nos anoos 70, onde a ementa das 6,18h era sempre o papo-seco com manteiga e o bagaço da ordem. Ah, já me esquecia, e ainda a BOLA...
Mas o que me espanta é que toda esta gente pára para ver e ouvir uma pequena rúbrica (não sei em qual canal de TV) chamada "Assim se fala em bom Português"... As pessoas ouvem atentamente e pôem-se a adivinhar o que estará certo ou errado, rindo muito quando acertam e lastimando-se quando erram.
Da última vez em que presenciei a cena estava em causa a palavra "gastado" ou "gasto", na frase " Tanto tempo que temos gasto (gastado) para nada" . Todos no cafézito erraram ao dizer que o que estava certo era "gasto"... E uma velha senhora até ripostou: " Até a falar temos preguiça de dizer palavras mais compridas! Não há-de o país estar como está! É a lei do menor esforço!"
Não sei porquê tal situação enternece-me, nas manhãs em que a presencio... Na falta de outra distracção o povo aprende a falar a sua língua! Parece-me muito bem.
Embora tenha algumas dúvidas que os ensinamentos lá fiquem dentro, para a próxima vez que se utilizarem aqueles termos... Em Portugal, como em todo o mundo, a tal da Lei do Menor Esforço deve prevalecer sobre estas heróicas tentativas. Mas houve quem tentasse... E, nos tempos que correm, tentar já é de louvar.
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