quinta-feira, fevereiro 18, 2010

A Cama

Existem pessoas que se levantam da cama, seja qual for a hora , de um salto. Arremetem para a "privada", tratam dos seus assuntos, regressam ao quarto, vestem e calçam-se. E estão a sair de casa normalmente meia hora depois de se terem levantado. Eu sou - felizmente - dessas pesssoas. Nem necessito de despertador! Pelas 5 e um quarto já espreito o relógio pelo "rabo" do olho, pelas 6 e picos estou a pé. Às 7 e 10h estou a chegar aos serviços. Em sendo 7 e 20h já estou a bater à porta da Versailles, para tomar o pequeno almoço.

E depois, existem os "outros" ...os do outro extremo da escala, onde se inclui - infelizmente - o meu "senhorio"...

Essas criaturas , àcerca das quais o bom povo fez ditados engenhosos ("é bom para ir buscar a Morte"; "Parece mesmo uma lesma paralítica"...) têm com a cama uma relação estranha, entranhada e algo pérfida.

Uma cama, para os normais mortais, é um local de repouso noturno e , vá lá, de recreio sensorial. Admitimos que  - sózinhos ou acompanhados - todos gostaríamos de fazer  da cama um local aprazível, onde se deveria partir para locais bem melhores do que esta vida de Faces Ocultas , Freeports e Casas Pias.

Ou pelo sonho, ou então pelo jogo do amor que - nestes tempos e em podendo -, deve ser das coisas melhores e mais baratas que ainda se vão fazendo...

Mas depois temos as tais outras criaturas que necessitam de duas horas para abrir uma pálpebra, mais duas a seguir para abrir a outra , e ainda mais uma horita para decidir se saem da cama pela esquerda ou pela direita, e depois mais outra meia horita para perceberem que, afinal, saíram pelo lado contrário àquele onde estavam os chinelos, pelo que ... se deitam outra vez e recomeçam a árdua tarefa, bem devagar..

Esta gente nem tanto dorme  como sobretudo (e gabardina) "veste a cama como se fosse uma segunda pele"... Têm-lhe uma afeição doentia que os leva a encarar a separação diária dos seus lençóis como se se tratasse de uma viagem ao Grande Norte nos tempos do Scott Amundsen.

Pergunta quem não sabe ( que sou eu) como semelhantes caracóis encaram a vida de trabalho normal, com horários de 7 horas? A resposta não é fácil. Dir-me-ão que foi  para estas gentes que se fizeram os trabalhos nocturnos, ou que foi algum deles que inventou o trabalho em casa, com ligações seguras dos computadores pessoais aos servidores das suas empresas... Ou ainda que o retrato que acabei de tirar é paradigmático das "grandes almas" , escritores alcoólicos do género Hemingway, grandes jornalistas de investigação , como a Cabrita (salvo seja!), investigadores sonâmbulos e distraídos do tipo Einstein e quejandos.

Pode ser que assim seja, mas de uma coisa podem estar certos: pagarei uma pipa de massa (fazendo para isso a competente subscrição pública) a quem inventasse uma cama que, ao bater das horas do relógio, desse dois coices e um par de cangochas de mula velha aos impetrantes amantes do quentinho... E que acabasse a tarefa deitando-lhes em cima a primeira urina da manhã anterior, depois de convenientemente frigorificada!

E mesmo assim não sei se resultaria com todos...

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