Mário Crespo, que muito admiro pelas posições independentes e abertas que mantém nas suas intervenções como cronista e como Pivot do Jornal das 21h da SIC Notícias, arranjou uma tramóia em relação a uma crónica não publicada no JN, alegadamente por nela se fazerem referências a observações do PM à mesa de um almoço, no âmbito das quais teria sido dito que ele (Mário Crespo) e que o "outro" não enfeudado da nossa vida política (Medina Carreira) eram "problemas que tinham de ser resolvidos"...
À mesa e entre amigos pode dizer-se tudo... Até eu, sem o pensar , tenho chamado nomes feios à mesa a muita gente das minhas relações, incluindo a família mais chegada. Para já não falar dos meus superiores, que de vez em quando levam com uma roda de adjectivos capazes de fazer corar o Porteiro do Elefante Branco ... Mas adiante que o Mar está alteroso...
O meu Senhorio, por exemplo, a crer naquilo que eu lhe chamo quando me chateia, já devia ter uns enfeites na testa maiores do que um alce do Canadá na época do acasalamento...
O facto de eu dizer "O Ganda Cab... ontem fez-me isto ou aquilo" não significa que ele seja cab.. , nem sequer que eu pense que ele o é... Significa apenas duas coisas:
a) Que eu próprio tenho uma língua de trapos e devia ser mais bem educado, sobretudo à mesa.
b) Que ele, o visado, tomou alguma atitude que não agradou à entidade paternal.
Quem é que, à mesa, nunca disse : " F... que a P... da sopa está quente comó C..." ? Sobretudo se só estão homens sentados e se escaldarmos o céu da boca com a primeira colherada do caldo verde?
Para já não falar da bola. Hoje, por exemplo, qual o sportinguista de alma quente que - ao almoço, entre o bife à casa e o café com cheirinho - não chamará nomes feios à senhora mãe do Carlos Carvalhal? Mas adiante que o tal Mar, já o disse, está hoje alteroso...
Falar de política à mesa, sobretudo no final de uma refeição bem aviada e prazenteirosa, quando uma letargia benigna parece que tomou conta de nós, tem grandes vantagens:
O mundo parece um local melhor para se viver. O Déficit (esse Cab de um F... de uma Grandessíssima P..." parece-nos um fenómeno passageiro, o Desemprego está a ser bem combatido pelo Governo e pelas Empresas, o próprio clima torna-se ameno e o aquecimento global algum exagero de cientistas malévolos e desejosos de criar o caos na sociedade...
Depois aparece a conta do dito almoço.
Ora aí é que a porca torce o rabo. Defrontado com a realidade comezinha dos duzentos euritos para 4 refeições, o português pagante amaldiçoa várias coisas por ordem de importância:
- A "P...da Cabeça da Garoupa, que foi cara comá M..."
- a choldra do país onde nasceu
- a impunidade dos malandrins que não pagam impostos, fonte de todos os males que nos acontecem (aqui, por acaso não está a pensar mal...)
- o Governo e todos os Ministros, "cáfila de comilões e corruptos"
- os próprios amigos comensais, que, como era ele a pagar , "atacaram os pratos mais caros da ementa que nem porcos a fuçar! E ainda por cima pediram digestivos!!" (Claro que já não se lembra que ,quando lhe toca a ele ser convidado, faz a mesma coisa, ou ainda pior).
Por estes motivos repito que não se deve ligar muito às conversas de amigos, à mesa, seja ela a de um restaurante famoso ou a de uma tasca em Alfama.
Palavras, leva-as o vento e quando são das que se pronunciam depois, ou durante, os almoços... Vou ali e já venho...
Mário, volta que estás perdoado!
Um comentário:
Inteiramente de acordo com o que escreveu o sr. Raúl Moreira sobre este assunto, acrescento apenas o seguinte: não me parece que saia muito bem da história a pessoa (ou as pessoas) que almoçou com José Sócrates e foi depois relatar o que ele disse. Sócrates devia ter mais cuidado com o que diz e à frente de quem o diz, mas estes intriguistas da treta também não interessam nada. E mais: Sócrates disse que Mário Crespo é um problema que tem de ser resolvido. E depois? Mandou matá-lo? Silenciá-lo? Despedi-lo? Não! O Mário Crespo continua a falar (até foi convidado para umas jornadas do CDS...), continua a ter o seu emprego e agora, se calhar, até tem mais audiência. Portanto, não vejo onde esteja mais um grande ataque à liberdade de expressão. Vejo é mais um ataque ao José Sócrates, que acontece, curiosamente, na semana do Conselho de Estado, da discussão da lei das finanças regionais e de se saber se continuamos todos a pagar os disparates do ditador madeirense (este sim, responsável por muitos e violentos ataques à liberdade de expressão e não só). deve ser coincidência...
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