sexta-feira, janeiro 09, 2009

Para Descansar a Vista


Está bom este tempo para ficar em casa, ao quente da lareira ou dos aquecedores, perto da janela, com um bom livro na mão.

E aqui têm hoje, de Edmundo de Bettencourt,
poeta funchalense desaparecido em 1973, a:

“Leitura

Havia luz em uns instantes surgidos
na minha vida,
que a mesma vida apagava.
E a pobre realidade
era uma cinza......
já nada me recordava se,
de entre ela, uma faúlha
não me queimasse os sentidos.

O fogo das queimaduras
é dor que nunca me passa!
E é esta que me ressurge
um pouco dessa luz-alma
de tantos momentos idos...

A inquieta luz, sempre de agora,
que ao mundo nada desvenda,
a mim diz certa verdade,
a chã naturalidade
nas coisas vãs da legenda.

Talvez ninguém me acredite,
e se ria,
quando grave eu me recite.

Mas recitar-me, cantar,
mesmo cansada a memória,
teria de acontecer:é comigo,
bem viva enquanto eu viver,
a minha inútil história.”

Edmundo de Bettencourt

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