O consumismo desvairado e as estratégias de MKT descobriram novas necessidades de comunicação para o cidadão. Ninguém sonha já com um tempo em que o mais simples dos portugueses não estivesse comunicável, sempre, e à simples distância de um bolso de casaco ou de uma mala de senhora levada ao ombro.
E, no entanto, mais de metade dos portugueses nasceu, cresceu e viveu nesse mundo dos telefones de "baquelite", onde a comunicação pessoal necessitava suporte físico imóvel e\ou a figura do carteiro para intermediar o relacionamento.
Neste momento em que, por efeitos da crise, as grandes operadoras de rede móvel assumem que pela primeira vez estão a vender menos telemóveis, embora a cobertura do país com esses objectos seja pouco menos do que estarrecedora, diverti-me a passear os olhos pelos catálogos Premium de Natal das mesmas Operadoras, onde encontrei ( era fatal) a figura relativamente recente do SmartPhone.
Um SmartPhone é assim uma espécie de um cruzamento entre um telemóvel e um Computador Portátil levado ao limite inferior no que diz respeito ao adjectivo "portátil". Podemos discutir se o IPhone representado na imagem é de facto um SmartPhone ou outra coisa qualquer (mais "coisa" talvez...) mas para os efeitos do desenvolvimento do raciocínio não tem relevância.
Têm estes aparelhos SmartPhones grosseiramente a dimensão de um TMóvel, mas executam ligações aos "e-mail account services" do cidadão, permitindo a recepção e envio (em tempo real) de mensagens e ainda o "passseio" pela InterNet. Para além disto estão carregados com o Windows Mobile ou outros sistemas operativos proprietários (como o da BlackBerry) o que permite gerir agendas, executar cálculos em Excel, receber e ler documentos ou apresentações em Power Point, e por aí fora.
Imaginem a reacção de um cidadão dos meados do século XX a quem fosse dito: "Olhe, está aqui um aparelho que lhe vai permitir trabalhar 24h por dia, em casa ou no emprego, nas férias ou em trabalho, durante a noite ou durante o dia. Em Portugal ou no Estrangeiro. E a Empresa ofereçe-lho com o maior gosto!"
Provavelmente esse cidadão não ficaria muito satisfeito com a ideia ... Éramos nessa altura - penso eu - mais ciosos da nossa independência e do nosso "espaço privado", o qual não se confundia com o "espaço público onde ganhávamos a vida."
Mas hoje em dia aqueles profissionais quadros médios ou superiores (poucos) que não recebem estes aparelhos do "dono", correm para os comprar a título individual - a pronto ou a crédito - como se fossem para uma padaria a comprar pão quente à noite para acalmar a ressaca...
Tornaram-se estas maquinetas símbolos de status, tal como os automóveis ou as roupas de marca, e competem com os relógios de qualidade na corrida ao pódium masculino das vaidades da "season".
Sejam os inevitáveis IPhones para a malta das artes e profissões liberais, o BlackBerry para os executivos que não dispensam o "push mail" estejam onde estiverem, os HTC para investigadores e cientistas, ou os Nokia da série 9 para os... "nokios" (são aqueles portugueses que não conseguem fazer uma simples chamada sem ser num Nokia, quanto mais algum trabalho mais pesado...)
E serão mesmo estes aparelhos necessários? Fará parte do novo paradigma da gestão de empresas ou de carreiras andar com um computador no bolso do casaco (se calhar daqui a algum tempo no bolso da camisa, ou mesmo dentro do fato de banho)?
A Pergunta é obviamente sem nexo. Nesta época em que vivemos a "necessidade" inventa-se e complica-se a cada dia que passa. O "supérfluo" passa por imprescindível e a "aparência" conta mais do que a realidade. Pelo menos nestas camadas sociais onde nos movimentamos...
Até quando?
2 comentários:
Poderia escrever milhares de coisas aqui, mas acho que em apenas uma frase rebaterei a maioria de suas indagações a respeito.
“A possibilidade de resolver todos os problemas de minha empresa aonde eu estiver deixou minha vida mais livre pois é muito mais agradável responder aos meus clientes em um restaurante do que em um escritório.”
Não e uma crítica a você amigo e sim outra visão. O mundo mudou sim e suas exigências também.
Bom se o anônimo disse que a empresa dele é na rua muito que bem, porem se eu como cliente for atendido em uma restaurante como saberei que não tomaste algumas a mais e falaste o que não podes cumprir.
A divisão de locais é essencial senão vamos acabar a cozinhar nos banheiros e a usar outras coisa que não sejam panelas, tecnologia sim seriedade também como posso levar uma pessoa a sério se ele pode estar num circo a dar risadas, quando necessito de seriedade e atenção.Local de trabalho ainda é local de trabalho mesmo sendo dentro de sua casa, não atendas ninguém no banheiro.
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