quarta-feira, abril 30, 2008
A Necessidade dos "Saberes"
A propósito do famigerado estudo da Católica sobre aquilo que sabem (ou não sabem) os jovens portugueses, o qual teve honras de citação Presidencial no 25 de Abril, convém dizer mais algumas coisas.
A "Sabedoria" nasceu por necessidade. Necessidade relacionada com a sobrevivência, diga-se desde já. Quem não sabia caçar morria à fome, quem não sabia lavrar idem, idem, quem não sabia fazer fogo depressa foi ultrapassado por quem sabia, quem não aprendeu a trabalhar a pedra ou o osso depressa foi extinto pelas outras tribos que tinham dominado esses "Saberes".
Hoje em dia - e se pensarmos um pouco - não é assim tão diferente a situação dos jovens humanos perante a aquisição dos "Saberes"...
Saber andar de mountain bike ou de skate pode ser hoje absolutamente necessário em certas "tribos" urbanas. Mais necessário para preservar a saúde (física ou mental) do que saber Português ou Matemática.
Há jovens que se dedicam aos RPG (Magic the Gathering e outros que tais) e que transferem para essas saberes alternativos as energias que poderiam utilizar nos estudos oficiais. Conheço Pais que falam com algum receio do conhecimento enciclopédico que as filhas adolescentes têm sobre a vida de certos artistas que estão na moda, do cinema ou do Show Business.
As Necessidades que estes muito diversos tipos de saberes vão satisfazer são quase todas do fórum Psico-social, têm a ver com variáveis e dimensões da vida que passam muitas vezes ao lado dos anseios e experiências dos adultos.
São o Status e o Fashion, sem dúvida, mas localizados em certas proto-sociedades adolescentes - Tribos mesmo - onde existem regras próprias de iniciação e de aceitação dos seus membros.
E reparem que não estou a falar de Gangs Pró-Nazis, Claques de Futebol ou da "Malta da Pesada agarrada ao charro", mas sim de miúdos e miúdas "normais" que vivem em bairros perfeitamente suburbanos...
Eu próprio, antes de enviuvar, devo confessar que não sabia cozinhar.
Nunca tinha tido essa necessidade quer em casa de minha Mãe, onde sempre o culto dos Fogões atingira elevados níveis artísticos por obra e graça de Tias e Avós sabedoras; nem sequer quando casei, porque a minha mulher estava habituada - lá na quinta da Beira Alta - a fazer comer desde os 15 anos para os ranchos dos trabalhadores que lavravam as terras do Pai e do Avô. E fazia muito bem todo o antigo receituário tradicional beirão, com os assados no forno à cabeça.
Mas há 9 anos, e depois de ter gasto rios de dinheiro nos primeiros meses a comer sempre fora com o meu "Senhorio", tive que me aproximar dos fogões. Timidamente, escudado pelos ensinamentos de grandes Amigos e profissionais (Obrigado Amigo Mendonça e Dª Lurdes!). Foi uma curva de aprendizagem algo difícil - e que deve ter causado danos irreparáveis às paredes do estômago do Diogo (para não dizer úlceras nervosas mesmo) já que a sua concepção de lealdade filial sempre o impediu de mandar o velho às urtigas e encomendar uma Pizza...
9 anos passados posso dizer que faço quase tudo. Pode ser mais lentamente (sobretudo descascar batatas, processo que ainda odeio) mas faço tudo. E por necessidade.
Como se podem pôr os nossos jovens a sentirem essa "necessidade" do honesto estudo mas virada para as disciplinas dos respectivos programas escolares?
Só vejo uma alternativa: Pagar-lhes à peça.
Se não for em dinheiro, então em géneros.
Deveríamos reintroduzir nas relações familiares e escolares o Papão do Desemprego e da Inaptidão social (o que também não é muito difícil de fazer dadas as circunstâncias do país Real) e abanar sempre em frente daqueles narizes borbulhentos a cenoura do BMW Azul ou Cinza Claro que os esperaria no final dos cursos superiores...
Hã? O qué que estão para aí a dizer?? Não há Emprego quanto mais BMW (nem azul nem de outra cor qualquer) no final dos nossos cursos superiores??
Olha que pôrra!
Bem, então o melhor é tratar disso primeiro antes de motivar as criançinhas...
O Tempora! o Mores... Volta Cícero que estás perdoado.
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