sexta-feira, abril 04, 2008
Existem Bruxas?? Uma Fábula antiga passada ontem
O "mau olhado" é um assunto que pouco se discute (não vá o demo tecê-las) mas que aparentemente faz parte da vida quotidiana de muitos portugueses.
Por vezes nem todos o reconhecem como tal e, se vivem nas cidades, queixam-se da "má sorte" ou do "azar" que costumam ter na vida. Mas se vivessem na província mais profunda saberiam que tudo isso tem a ver com o "mau olhado".
Nesses locais existe normalmente uma mulher, mais para velha do que nova, solteira , que anda sempre de cara tapada ( só assim sendo tolerada pelos outros) e que tem o cuidado de baixar sempre a cabeça quando se cruza com alguém, para não encarar de frente...
Provavelmente será vesga ou tem um olho a menos de nascença, mas essas explicações "racionais" de nada servem aos aldeões:
- Chumbou o filho da comadre na Escola? Foi o "mau olhado" que aquela desgraçada lhe deitou antes do exame...
- Atirou-se o Ti Jaquim abaixo da Mota? Só pode ter sido porque naquele mesmo dia de manhã cruzou-se com a "bruxa" perto da padaria!
Nem interessa verificar que o filho da Comadre chumba há 3 anos seguidos e nunca pôe os pés na dita escola e que o Ti Jaquim , quando caíu da mota tinha saído da taverna e já vinha bem aviado...
Não senhor! Tudo o que se passa de mal e de transtorno é culpa da "Stregga".
Numa das minhas excursões habituais até fiquei um pouco surpreendido quando uma amável vizinha me disse: Veja lá não se cruze com a Josefa! Aquela mulher é uma grande "Média"!!
O que seria uma "Média"? Ainda por cima "Grande"?? Para mim, que ensinei 30 anos Estatística, "média" é uma coisa, mas duvido que fosse essa a acepção que a minha vizinha dava à palavra...
Até que outro dia percebi que se tratava apenas de uma corruptela de "Medium" . Quer dizer, a Dª Josefa não só tinha fama de "bruxa" como também comunicaria com os "defuntos já falecidos"...
Esta pobre criatura servia um propósito importante na vida social da aldeia: ser o bode expiatório dos outros habitantes. Por isso nunca a expulsaram (ou mataram, se estivéssemos nos tempos mais antigos) com receio de que, sem desculpas oficiais para a "desgraça", tivessem as pessoas "normais da aldeia" que encarar de frente as suas próprias inaptidões e falhanços.
Tudo isto a propósito de uma "queimada" feita sem autorização e que levou a intervenção dos Bombeiros e depois da Polícia. A culpada pelo desmando viu-se multada em algumas dezenas de Euros e queixou-se amargamente às vizinhas: "Foi aquela P...! Não me largou a porta todo o santo dia!" (convém aqui dizer que a casa da putativa "bruxa" está a duas portas da da vizinha queixosa). "Se a vejo dou-lhe uma esfrega! Deixem só cá chegar o meu Homem! "
A "desgraçada", ao ouvir as ameaças, nem tugiu nem mungiu. Agarrou num xaile velho , pô-lo à cabeça e foi dormir duas ou três noites para um palheiro que tinha a alguns Km da aldeia, não fossem os "ofendidos" ofendê-la mas era a ela na sua integridade física, como se calhar já tinham feito outros noutras ocasiões...
Teve azar... Perto do Palheiro andava um Pastor com as ovelhas e logo lhe adoeçeram duas ou três... Embora mais burro que o menos inteligente dos seus cães, não demorou o Pastor a fazer o cálculo habitual: "Bruxa" na vizinhança igual a ovelhas com maleita!
Foi a triste mais uma vez expulsa do seu pobre pardieiro e, sem mais lugar para onde ir, foi pedir ajuda a uma irmã que vivia na aldeia mais próxima.
Esta lá a recebeu com maus modos e foi-a avisando: "Tu por aqui? Tenho o dia estragado! Só pode ter sido enguiço da Tia Rosa que ontem me veio pedir dois ovos emprestados! Aquela mulher é mesmo uma "bruxa" ...
Moral da História (que é obviamente ficção , mas não parece...) : Faz às vezes mais falta uma "bruxa" na aldeia do que um psiquiatra num Centro de Saúde...
Não quererá a Srª Ministra da Educação contratar algumas para as escolas?
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